quinta-feira, 28 de agosto de 2008

De mulher para mulher

Querida e boa amiga Xim,


Desculpa-me só hoje caligrafar-te umas linhas, mas acredita que a minha vida é um corre-corre constante, às vezes até ando com o sono atrasado, pois o dia só tem 24 horas. Quando me deito, nem sequer sinto as solas dos pés, pois passo a maior parte do tempo de pé. Além de trabalhar tenho as tarefas domésticas por minha conta, cozinhar, lavar, engomar, limpar a casa, vou às compras, pago as contas, enfim, tenho sempre os dias muitos preenchidos, além de apoiar as nossas filhas com as tarefas escolares.


Acho o blog Vasikate va Moçambique muito interessante. Eu não ligo muito à net, mas sobre o assunto da Casa 1 e Casa 2, gostei de ler os vários comentários. Concordo com algumas das razões apresentadas, mas eu tenho a minha opinião pessoal, também a minha experiência pessoal de mulher casada e mãe de dois moços.


Eu sou um bocado conservadora, acho que os bons costumes e alguns dos ensinamentos transmitidos pelos nossos antepassados ainda são uma mais valia nos dia que correm. Acho que as pessoas se tornaram muito materialistas e egoístas, que se deixam fascinar por coisas que nem sequer lhes preenchem a longo prazo, depois não conseguem compreender como ainda sentem um grande vazio, apesar de terem tudo o que supostamente lhes deveria fazer felizes ou realizados. A felicidade está nas pequenas coisas da vida, não nas grandezas ou grandes projectos.


Digo com orgulho que o João foi o primeiro e único homem que conheci na vida, com quem vim a casar-me e com quem tive 4 filhos. Eu sou muito feminina para querer ser feminista, mas sou pela igualdade de direitos entre ambos os sexos, especialmente a nível profissional, mas como há diferenças positivas e negativas entre ambos os sexos, acho que o homem e a mulher se deveriam unir e trabalhar em conjunto, não de forma competitiva, mas como um team, em sintonia, desta forma contribuindo para o equilíbrio da relação, sua harmonia e felicidade do casal e dos filhos.


Quando falas em traição, acho que a maioria dos homens trai sem saber exactamente porquê, acho que é um instinto masculino, uma forma inconsciente de se sentirem mais machos, e acredita que a culpa raramente é da mulher. O homem não precisa de ter um click ou cumplicidade com uma mulher para ter sexo com ela. Ele não precisa dos preliminares, vai logo directo ao assunto. Ele excita-se a ver fotografias pornográficas.


A mulher normal é diferente. Ela precisa de ter um género de ligação a esse homem, precisa dos preliminares, pois não se excita com o visual. Um dos comentadores diz que 'as mulheres nem sempre estão disponíveis, eu poderia acrescentar que uma mulher não é como um botão do interruptor, que se liga ou desliga. A mulher pode alegar estar cansada, estar com dor de cabeça, e arranjar outra desculpa qualquer, mas há sempre outro problema por detrás desse.


Se uma mulher trabalhar fora de casa todo o dia, chegar a casa e ter as tarefas domésticas todas por sua conta, claro que isso irá criar um certo ressentimento, especialmente se o seu companheiro estiver assistindo à TV ou fumando o seu cachimbo, pois o sexo para a mulher não começa na cama, à hora de se deitarem, mas começa logo de manhã, quando acordam, se ele a trata com carinho e amor, ajuda-lhe a tratar dos filhos, quando ela se sente amada sem qualquer conotação sexual, e o sexo ou coito à noite, é a culminação de tudo o que acontece durante o dia. A mulher dá sexo para receber amor, o homem dá amor para receber sexo - isto toda a gente deve saber.


A maioria dos homens ainda é machista, mas a sociedade também contribui muito para que isto se perpetue. Ainda há muita coisa que é aceitável a um homem, mas se for o inverso, cai o 'carmo e a trindade'. As mulheres também têm muitas culpas no cartório, deveriam ser mais unidas, acreditarem mais em si mesmas, serem mais independentes ou auto-suficientes, terem mais auto-estima, etc. Porque teremos de ser a amante, a segunda, ou a Casa 2? Porque não poderemos ser 'a eleita por excelência'?


Deveríamos recusar-nos a papéis secundários e sermos mais solidárias com as mulheres casadas, isto é, não querermos relacionamentos amorosos com homens casados, fugirmos deles como 'o diabo foge da cruz', queria ver onde eles iriam arranjar amantes, só lhes restariam as prostitutas. Eu não gostaria de ser a segunda esposa de ninguém, pois se ele é capaz de se divorciar da mulher por mim, qualquer dia fará o mesmo por outra. Está provado que segundos casamentos geralmente acabam em divórcio.


Eu sou das que ainda acreditam na instituição do casamento. Acho que deveria ser para toda a vida. Acredito na palavra 'não separe o homem o que Deus uniu' - mas claro que há excepções a esta regra. Não acredito que uma mulher deva ser espancada pelo marido, pois a mulher nasceu para ser amada. O divórcio deveria ser concedido em casos extremos, quando mesmo já não há qualquer hipótese de se salvar o relacionamento.



Bem, minha querida, acho que vou ter de ficar por aqui, pois esta já vai longa e tenho ainda muito que fazer. Beijinhos para ti e teus filhotes, meus e da nossa turma.


Com o muito carinho e amizade da Maria



Adenda: A Maria, nome ficticio, é uma mulher que conheci pela via da Web e que convidei para colaborar activamente no nosso blog. Infelizmente, devido aos muitos afazeres, como os que narra na carta a mim dirigida, não o podera fazer. Sabendo que está mulher, que se diz conservadora, é uma grande e sonhadora visionária, convosco quero partilhar (com a devida permissão) os seus pensamentos e ideias em forma de carta.

Sem comentários: