quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Parto de loiça

Recentemente fomos brindados por um acontecimento deveras estranho à natureza humana no ambito da prociação: uma jovem mulher pariu (ou abortou visto que aos 3 meses não se pode considerar parto prematuro) 3 chávenas, vulgo canecas, Made in China.

Em torno da questão, vários foram os comentários tecidos, e como não podia deixar de ser, o acontecimento serviu de matéria prima para os que usam a sua “criativiade” para inventar SMS, algumas delas de conteúdo pejorativo, que circulam nos nossos telemoveis.

A “mãe de fresco”, visivelmente emocionada, não foi capaz de explicar como foi possível o seu ventre alojar 3 chávenas durante 3 meses. Ainda na tentativa de procurar explicação para o fenómeno, procurou-se ouvir opiniões de várias pessoas, estamos a falar de curandeiros, ginecologistas, obstetras e enfermeiros.

Facto curioso é que uma enfermeira do Hospital Central de Maputo deu-nos a entender que casos desta natureza são comuns! Havendo até mulheres que simulam uma gravidez durante 9 meses e no fim imploram às parteiras para que estas informem a sogra que foi um nado morto e que, portanto, não há bebé. Essa enfermeira, disse ainda que há familias que chegam ao ponto de exigir que lhes seja apresentado o corpo da criança já sem vida.

Em muitas sociedades o facto de não existir um filho não é visto como um problema no casal, mas sim como um problema exclusivo da mulher. O homem, neste caso, é vítima da sua própria esposa/companheira, e a pressão exercida pela familia e amigos, faz com que ele se sinta inferior e em descompasso em relação a outros casais.

A mulher, por sua vez, sente-se defeituosa, envergonhada, moralmente arrasada e até mesmo estigmatizada e, por via disso, ela se vê na eminência de receber um cartão vermelho do marido. Dai que, na tentiva de segurar o lar(?), ela recorra a artimanhas como forjar uma gravidez durante 9 meses ou ainda “parir” chávenas ao 3o mês de gravidez!!!

Existem casos de casais que não têm filhos não porque o problema seja da mulher, pois, o homem também pode ser estéril, mas é muito difícil ou quase impossível encontrar um homem que aceite fazer exames médicos para testar a sua fertilidade, deixando assim que a mulher carregue o fardo sozinha.

Infelizmente, apesar de se cantar vitória da mulher sobre a exclusão social, continua visível a ideia de que ela é destinada ao casamento e a maternidade, o que mostra que ainda temos muita estrada por palmilhar!

3 comentários:

Anónimo disse...

O cliché que a luta da mulher e do homem deve ser dirigida de forma inseparável, só ganha sentido quando o homem se libertar a si próprio. Os preconceitos e os tabus transferidos, e mantidos, intactos entre gerações, exigem um combate que não se compadece, nem se circunscreve, a meras declarações altissonantes.
Como se diz no texto, muita água há-de correr debaixo das pontes até que se consiga a tão almejada igualdade social.
O que fazer? Agir, não há outro modo

Yndongah disse...

Caro Navegando com sabores,

O desafio porém, é fazer com que o homem se liberte a sí próprio, fazer que com ele entenda que a emancipação da mulher, a superação dos preconceitos e comportamentos que a subordinam, penalizam e inferiorizam no plano social, económico, político e familiar, constitui uma condição indispensável para a criação de uma sociedade sem classes, com iguais oportunidades para todos, isto é uma sociedade em que ninguém seja instrumento do outro.
Realmente as “declarações altissonantes” acabam distorcendo a realidade, e por vezes criam um certo realaxamento na mulher, mas episódios como este mostram que ainda continuamos muito longe do ideial.
O remédio é continuar a agir sim mas....hajam forças!!!

Obrigado e bom fim de semana

Jonathan McCharty disse...

Yndongah,
Para a mulher "se libertar", ela precisa ter educacao, ter seu emprego, ter seu rendimento. Ainda temos uma sociedade onde para muitas mulheres, o grande feito de suas vidas, e' encontrar um homem pra casar. Temos ainda muito homens, inclusive (pseudo)"doutores" que tem pavor de mulher independente, porque isso poderia por em perigo o seu "poderio" no lar, sustentado muitas das vezes, nao por amor, carinho, atencao, mas porque ele e' que "paga". Falei de educacao acima, porque ela abre a mente das pessoas. Se um casal tem dificuldade em conceber, a mulher pode ter a nocao que ela pode ser o problema, mas que o mesmo possa estar com o seu parceiro e juntos poderem encontrar formas de superar essa situacao. O homem nunca vai dar concessoes as mulheres. Elas e' que tem que descobrir o caminho para a sua emancipacao! E cuidado: emancipacao nao e' apenas para a hora dos beneficios, como tem estado a acontecer!

P.S- pelo que percebi do texto, a Yndongah acha que o caso das chavenas e' mais uma das estorias de gravizes falsas??

Bom weekend