terça-feira, 25 de novembro de 2008

NÃO à violência contra mulheres!



A história da Ana

Nos primeiros anos de casados vivia bem com o meu marido. Aos poucos ele foi mudando. Discutia comigo por tudo e por nada. Pensei que era devido à falta de dinheiro. Nunca soube quanto ele ganhava mas arranjei uma banca no mercado para ajudar nas despesas da casa. As coisas melhoraram um pouco, mas depois passou a bater-me e proibiu-me de vender.

Hoje nem me deixa sair de casa. Sinto-me abusada porque fico fechada em casa à espera da ajuda dele. Mas ele já não faz nada por mim. Diz que não vale a pena confiar numa mulher preguiçosa e gastadora.

Sinto-me sozinha, uma prisioneira que sofre e que não tem voz na própria casa. Já não consigo discutir com ele e por vezes sinto-me tão triste a ponto de ter vontade de morrer, pois o meu marido está a matar-me aos poucos!” in N’weti (1ª edição 2008, Conversando é que a gente se entende, p. 17)

A violência doméstica é um circulo vicioso e pode variar na sua expressão até chegar ao seu extremo ou ao ponto do que se plasma chamar violência doméstica, a fase da agressão fisica! Numa primeira fase, a tensão acumula-se no homem, pouco depois, o caos se instala e, diante dos estragos, vem o arrependimento e com ele as pazes são refeitas.

Ao contrário do que muitos pensam, a violência contra a mulher, pode se expressar de variadas formas que não aquela que é a mais comum, a violência fisica. Pode ser verbal (insultos e outras palavras que minam a auto-estima da mulher) ou económica (não permitindo o homem que a mulher desenvolva alguma actividade de geração de rendimento).

Há também a violência social (onde o homem proibe a sua mulher de conviver com as pessoas, incluindo sua própria familia), violência sexual (que resume qualquer forma de contacto sexual não desejado pela mulher) e a violência psicológica e/ou emocional (humilhações, ameaças, insultos e outros).

É verdade que alguns homens são também alvo de violência doméstica, mas as mulheres são, sem sombra de dúvida, as que mais sofrem com ela pelo que a Assembleia das Nações Unidas fixou o 25 de Novembro como o dia Internacional para a eliminação da violência contra a mulher. Mas também, nao é menos verdade que tantos outros homens lutam pela NAO violencia contra as mulheres!


25 comentários:

Júlio Mutisse disse...

Texto bonito. De certeza muitos de nós têm exemplos de alguns dos factos narrados neste post.

Alguém tem algum exemplo de violência contra o homem? É provável que não. Porquê? Porque a sociedade se habituou a ver a violência num sentido e criou estruturas para lidar com a violência da forma como esta mesma sociedade a vê. Exemplos? Gabinetes de atendimento à MULHER e a criança.

O homem não é violentado? É! E porquê não se divulga tanto como no caso da mulher? Homem que é homem não queixa! Homem tem que resolver, é mais forte! É isto que a sociedade ensinou ao homem. A razão mais apontadas para a violência contra a mulher é o alcoolismo! Conheço homens que não bebem que espancam suas mulheres. Porquê? Não será também reacção a uma qualquer violência?

Enquanto subestimamos a violência praticada também contra o homem, multiplicaremos estas campanhas. Ninguém pára e pensa no sufoco que deve ser a vida de muitos homens que um dia, do nada, inclusive matam suas mulheres a pancada. Temos sempre uma explicação simplista e generalisável para isso motivada pela recusa e/ou pelo medo das razões reais que levam àquilo: a violência, nas suas mais diversas formas, da mulher para com o homem.

Ximbitane disse...

Ilustre, paira no ar uma certa ironia no seu comentario ou estou enganada? De qualquer das formas, antecipo as minhas desculpas. Muthisse, reconheço e sei que muitos homens sofrem violencia, tal vez até eu tenha sido agressora alguma vez na minha vida de casada.

Lamentavelmente, na nossa sociedade, e como sublinho no post, a violencia so é considerada ou vista quando se chega as vias de facto e, nas vias de facto, os hematomas estao na cara da mulher. Acho, por isso, que deve ser dado a conhecer a todos sobre as multifacetas da violencia.

Recentemente, alguém me perguntou se eu era activista de direitos da mulher. Humildemente, respondi que nao era activista de nenhuma causa ou nao me sabia/reconhecia ser uma, mas isso nao faz de mim uma pessoa insensivel ao que acontece na nossa sociedade e em particular com a mulher.

O que esta em causa, neste post, nao é querer feminizar ou coisificar (ja que esta na moda)a violencia: a minha unica pretensao é, fazer desta data, que é internacionalmente direccionada para mulher, um momento de reflexao sobre as nossas condutas (homens e mulheres, agressores ou agredidos).

Abomino essa ideia de que os homens sao fortes, machoes, etc e etc e que nao choram, santa ignorancia! Os homens sao também violentados, mas perdoe-me, quanto à violencia, o dia de hoje é exclusivamente dedicado a mulher.

PS: nos bastidores, podemos redigir em conjunto um post sobre a violencia contra o homem. O que acha o sô juristilista desta parceria?

Nini disse...

A mulher moçambicana em particular deve começar a ganhar consciência de que o facto do homem com que vive ser seu marido não lhe dão o direito de violentá-la. Essa consciência deve começar a ser formada antes de sair da casa dos pais.

A uma coisa que notei cá em Moçambique das amizades que fiz, é que as mulheres crescem a aprender a cuidar e respeitar o marido independentemente da “porcaria” que ele tenha feito. Isto é, a mulher é ensinada a não lutar ou exigir os seus direitos, a não sentir dor independentemente do grau do ferimento. O conceito de boa mulher para algumas é aquela mulher que quando o marido chega do trabalho tira-lhe o sapato, leva-lhe água pra lavar as mãos, curva a cabeça para lhe comprementar e outras “idolatrações”. Não estou a querer dizer que não devemos tratar bem os maridos, pelo contrário, a última palavra é a dele, mas claro, depois de ouvir a nossa opinião.

Quanto aos homens que sofrem de violência domestica, acredito que não existe homem que tenha “as coisas no lugar”(coragem suficiente) para meter queixa contra a esposa. Já imaginaram a vergonha, he he he...os polícias serão os primeiros a rirem-se dele.

Yndongah disse...

Nini,

A útima parte do teu comentário fez me rir, realmente os polícias serão os primeiros a darem uma gargalhada, entratanto é condenável o silêncio tanto pelo homem quanto pela mulher.

Tens razão em relação aos ensinamentos por parte da familia, no dia do casamento as mulheres são submetidas a uma sessão designada “kulaya”, onde a noiva é aconselhada em relação a sua nova vida, nessas sessões a palavra de ordem tem sido “minha filha, vais sofrer lá onde vais, é assim mesmo, tens que aguentar, ter paciência, todas nós passamos por isso, blablabla”. Não se está já de início a preparar a mulher para “aguentar” até o "inaguentável"?
E acho que o “kulaya” deveria ser extensivo aos homens, do tipo pai, tio da noiva sentarem com o noivo e dizerem “amigo receba a nossa filha sã, cuida dela como se fosse tua filha blablabla” que tal?

Outro aspecto que acho errado e tambem é frequente, quando a mulher denuncia a violência junto a sua famíla esta, ao invés de ter em conta 2 situações, portanto o facto que gerou a violência e a propria violência, corre para perguntar o que se passou, e se nesse dia ela foi ao “shlengueletano” da igreja sem deixar o prato de comida na mesa hiiii cai-lhe toda familia em cima e esquecendo-se do grande problema que é violência

Mui dficil...

AGRY disse...

É um lugar comum afirmar-se que a mulher é duplamente explorada . Pelo mercado de trabalho, à semelhança do homem, e por este que foi “treinado” a considerar a mulher uma espécie de servo permanentemente disponível.
A Xim teve a honestidade intelectual de reconhecer que, infelizmente, também existe a violência de sinal contrario. Não será, pois, legitimo acusá-la de parcialidade. Aliado a isto,
sublinha o facto de hoje ser universalmente consagrado como o dia internacional para a eliminação da violência contra a mulher.
Este espaço que tem primado pela cordialidade e pela hospedagem de excelentes comentários, estará acessível, suponho, a todas as contribuições que permitam mostrar o outro lado da noticia.
Hoje, repito, é o dia da denúncia e de combate da violência das mulheres pretendendo-se pois, uma sociedade inclusiva em oposição ao conservandorismo de alguns (eles e elas).
O conformismo e a inércia de algumas (poucas?) mulheres também contribui, nalguns casos, para o alastrar dum fenómeno que envergonha toda a comunidade

Júlio Mutisse disse...

Xim, o que acho é que a forma como este assunto é abordado não ajuda a solução deste fenómeno. Tendemos, exclusivamente a ver o homem como agressor em função, dos hematomas da mulher. Me parece que nunca há um esforço de ver o que estará por detrás de cada bofetada; tendemos a apresentar quem chega a isso como irresponsável, avarento e, daqui há pouco, também criminoso.

E todas as estruturas Xim, estão desenhadas para apresentar as coisas assim. Estão feitas no sentido de defender a mulher desse monstro que é o homem.

Eu acho que se alguém se der ao trabalho de fazer um estudo da violência doméstica, podemos, provavelmente, descobrir que hematomas femininos são proporcionais aos hematomas psicológicos, emocionais, materiais que o homem sofre da mulher. Se nos dermos ao trabalho de fazer isso (além de parar na simples ideia de que é bébado, leviano, machista etc quem bate na mulher) podemos estar a prestar à sociedade um serviço válido tendente a erradicar a violência.

O que estou a tentar defender é que é fácil e é comum falar da violência contra a mulher. Mais difícil é explicar as causas ou avançar possíveis razões.

Estou a tentar dizer que temos que desmistificar a ideia do homem como agressor. A ideia do homem como causador apenas e vê-lo num ciclo onde se podem ver e explicar as causas da violência doméstica tal e qual a assistimos.

Estou a tentar dizer que a violência se produz sempre dentro de um sistema de interacções em que, infelizmente, até o Estado dá mais relevância aos efeitos visíveis (hematomas) criando orgãos para lidar com eles em detrimento de outros efeitos que, embora invisíveis, podem ajudar a explicar os efeitos visíveis.

Eu prefiro "Não a violência doméstica".

Nini,

Com base neste post, e no que tenho defendido sobre o assunto, reflicta nas possíveis formas pelas quais podes violentar o seu companheiro e tente ser melhor hoje, amanhã e sempre de tal forma que o homem e a mulher moçambicanos em particular comecem a ganhar consciência de que o facto de juntos viverem como marido e mulher não atribui a ninguém o direito de violentar o outro. Essa consciência deve começar a ser ensinada desde a tenra idade.

uma palavra pode ter um efeito mais devastador que uma bofetada. Se nos conhecermos mutuamente e evitarmos chocar de frente um com o outro, temos mais chances de evitar a violência.

Será utopia?

AGRY disse...

O exercicio da apologética pelo "não à violência doméstica" é interessante e conciliador.
Evocar que este fenómeno é transversal a todos os continentes e que há estudos muito sérios produzidos por especialistas, será insuficiente para nos conferir legitimidade na denúncia de uma “patologia” universalmente reconhecida?
Converter o homem no bode expiatório a pretexto da comemoração deste dia, não terá sido certamente a intenção de quem quer que seja.
Concordo com outras opiniões que defendem a importância de localizar as causas do fenómeno. A gente só pode combater o que conhece pelo que devemos, neste e noutros domínios, estar disso conscientes.
Não me parece que seja exclusivo da violência doméstica a necessidade de fundamentarmos as nossas opiniões mas compreendo, ou julgo compreender, a insistência de Júlio Muthisse.
Uma espécie de “deformação” profissional estará na origem desta perseguição salutar pelo contraditório. Será?

Júlio Mutisse disse...

Em tempos, no âmbito de um trabalho em que estava envolvido na faculdade, recebi um folheto que resumir as "Causas da Violência no Brasil." Rebusquei-o por causa do debate que corre aqui para trazer o que retive dele na esteira do que disse em comentários anteriores sobre este fenómeno.

De qualquer forma, o mais relevante é conhecermos as causas da violência para a evitarmos. Denunciar não é (única) solução. Podemos parar a violência contra uma mulher mas se não fizermos uma introspecção e tentar estudar/conhecer as causas gerais, teremos mais do mesmo em outros locais.

Vamos ao folheto. Numa das passagens ele diz que "já é tempo de a sociedade se consciensalizar de que, violência não é acção. Violência é, na verdade, reacção. O ser humano não comete violência sem motivo. É verdade que algumas vezes as violências recaem sob pessoas erradas, (pessoas inocentes que não cometeram as acções que estimularam a violência). No entanto, as acções erradas existiram e alguém as cometeu, caso contrário não haveria violência."

Em todo o Mundo as principais causas da violência são: o desrespeito -- a prepotência -- crises de raiva causadas por fracassos e frustrações -- crises mentais.

Excepto nos casos de loucura, a violência pode ser interpretada como uma tentativa de corrigir o que o diálogo não foi capaz de resolver. A violência funciona como um último recurso que tenta restabelecer o que é justo segundo a óptica do agressor. Em geral, a violência não tem um caráter meramente destrutivo. Na realidade, tem uma motivação corretiva que tenta consertar o que o diálogo não foi capaz de solucionar. Portanto, sempre que houver violência é porque, alguma coisa, já estava anteriormente errada. É essa “coisa errada” a real causa que precisa ser corrigida para diminuirmos, de facto, os diversos tipos de violências.

Mais, "a principal “acção errada”, que antecede a violência é o desrespeito. O desrespeito é o conseqüente das injustiças e afrontamentos, sejam sociais, sejam econômicos, sejam de relacionamentos conjugais, etc. A irreverência e o excesso de liberdades (libertinagens, estimuladas principalmente pela TV), também produzem desrespeito. E, o desrespeito, produz desejos de vingança que se transformam em violências."

Não estou a dizer que o folheto tenha explicações acabadas. Mas avança num sentido que pode nos ajudar, a todos, a ir para além de pôr a boca no trombone em relação à violência no geral.

Anónimo disse...

Considerando a data, texto muito interessante e equilibrado mas, vamos la brincar um pouco com coisas serias: O que e violencia? Vamos criar 16 dias contra violencia contra as criancas, outros contra violencia contra os homens, outros contra violencia contra os ricos, outros contra a violencia os pobres, e depois os adolescentes, os jovens reclamarao os seus 16 dias contra a violencia, ei ei ei... Roubando a ideia do Mutisse um pouco a frente porque nao 16 dias contra a violencia? Emidio Gune

AGRY disse...

Acho muito interessante o comentário produzido pelo Júlio Muthisse, aliás outra coisa não seria de esperar. Talvez eu tenha conseguido desempenhar razoavelmente o papel de advogado do diabo, rsrsrs
Eu afirmei, ou pretendi, fazê-lo, que o diagnóstico é condição necessária ( e indispensável) para o combate à doença. Aqui penso que estamos a falar a mesma língua. Referi a enormidade de estudos já efectuados.
As causas da pobreza são amplamente conhecidas. Por onde devemos começar? Pela divulgação dessas causas em detrimento da sua eliminação?
Recorda-se, certamente, o que Marx dizia: não basta explicar, é preciso transformar
Tenha um bom dia de trabalho

amosse macamo disse...

as mulheres, criancas e companhia, entram na lista de grupos desprotegidos pela sua condicao e dai a necessidade de alguma protecao, dai mesmo que surgem estas descriminacoes positivas do estilo dia da mulher....quando o homem nao tem dia nenhum e tambem sofre com a violencia. de facto e concordando com Julio e os demais, esta realidade, hoje em dia nao ºe exclusiva das mulheres e se a mulher pela sua condicao, esta autorizada a queixar'se a esquadra mais proxima, inclusive aos irmaos, primos e companhia, o homem faz tudo para que ninguem saiba e nos questionamos quem sofre mais com esta violencia?
acho, que longe de procurar martires, deviamos encontrar uma solucao conjunta para este problema.
e ja agora Vasikates, oportunista que eu sou, decidi fazer as pases convosco, depois da do Joaquim Macuacua...vejam Magilidane e acho que vai reinar a paz na terra dos Homens

Júlio Mutisse disse...

Agry, Ainda bem que estamos juntos.

Se eu fizer uma introspecção, partindo do conhecimento que tenho da minha parceira, descobrirei muitas coisas que, potencialmente, a podem violentar. Cabe a mim a partir desse conhecimento transformar esse conhecimento em acções práticas que evitem qualquer forma de violência. Se cada um fizer isso com o seu parceiro então...

Mas dispamo-nos de preconceitos e assumamos que a violência, em qualquer das suas formas, é assunto muito sério não só em Moçambique.

Um abraço a todos.

PC Mapengo disse...

Depois de ler os diferentes comentários entre eles a do Júlio não deixei de fazer uma ligação “violência-guerra”. Falo de guerra no sentido bélico do termo e que talvez seja o ponto mais alto da violência humana. Nesta ideia a guerra surge como a consequência de uma crise.
A violência — evito usar termo contra mulher— surge exactamente como consequência de uma crise doméstica. Não quero aqui branquear a violência aparentemente sem causas ou de causas insignificantes para alguns como a de ter dado prioridade a “nlhengueletano” da igreja em detrimento ao jantar para o “mulumuzana,” ou porque depois de uma bebedeira lembrou-se do velho sonho de ser pugilista e seu parceiro/parceira se apresenta como melhor adversário para esse dia.
Não quero aqui justificar qualquer tipo de violência seja como acção ou como reacção a qualquer coisa. Não sou pela violência. Quero simplesmente dizer que olhar para a violência como acção, olhar para a violência como um acto de homem contra a mulher, olhar para a violência como a própria crise continuaremos a fazer campanhas de “não a violência contra mulheres!” mesmo com castigos ao violentador ou produtor de hematomas, ficaremos frustrados contra o resultado.
PC

Nini disse...

Caro MUTISSE,
Na minha opinião acredito que não há nada que justifique uma bofetada, um insulto ou qualquer outra tortura psicológica, económica e física. O homem que toma essa atitude não passa de um estupido ignorante metido a machão. Homem que é homem opta pela conversa. Há violência quando há falta de argumento. Olhemos para as pessoas que opta pela violência, particularmente física, creio que um casal formado e informado chegam a um consenso.

Os familiares são os principais promotores da violência como bem disse a mana YNDONGAH. Não entendo o papel da família nessas situações. Se o MUTISSE levar uma vassorada por chegar em casa no dia seguinte, acredito que não terás coragens pra falar os seus pais e padrinhos onde arranjaste as marcas de vassora na cara, pois te vão dizer: “ oh Julio pareces que não es sangue dos Mutisse, ah que vergonha! Que decepção!, va mostra-la que manda na casa.” E as tuas irmãs não ficaram atrás.

Não pretendo violentar o meu companheiro independentemente do que ele possa vir a fazer, pois acredito que com uma boa conversa as coisas se resolvem. Mas se por acaso for necessário, será apenas um castigo de nada do tipo “ hoje só haverá sexo se ajudar-me apagar aquele vestido” he he he...( violência ou manipulação?).

Júlio Mutisse disse...

Nini,

Repare no que tenho defendido nos comentários anteriores. Mais do que nos queixar temos que investir no conhecimento das razões da violência. Repare no meu primeiro post. Dá te razão quando dizes que dificilmente me iria queixar a qualquer gabinete.

A violência tem uma causa. dizia eu citando um folheto "Violência é, na verdade, reacção. O ser humano não comete violência sem motivo. É verdade que algumas vezes as violências recaem sob pessoas erradas, (pessoas inocentes que não cometeram as acções que estimularam a violência). No entanto, as acções erradas existiram e alguém as cometeu, caso contrário não haveria violência."

Peguemos na sua ideia da vergonha que seria eu me queixar da violência seja qual for a estrutura em que o faça. Porque é assim? Porque somos (nós os homens) ensinados que somos fortes, chefes etc. etc. que é indigno ser suplantado por uma mulher! Achas mesmo oh Nina que (da mesma forma que o farias) eu recorreria aos nossos padrinhos se (sendo marido e mulher) me insultasses ou me faltasses ao respeito? O que é que achas que faria dentro do quadro social em "fui formado"? Espanco te. A minha "honra de macho" está lavada.

E o que dirás aos padrinhos ou ao Gabinete de atendimento à MULHER e a criança? Que meu marido me espancou e esquecerás as causas disso.

O importante é que o caldo não seja entornado. É que conheças tudo a sua volta para evitar a violência.

Nini,

Peço te que acredites que a violência não faz sentido. Venha de homem ou de mulher e seja qual for a forma que ela revista: física, psicológica etc etc etc.

Os principais promotores da violência somos nós, que não conseguimos dialogar, somos nós que não conseguimos ver para além do que nos interessa, somos nós que não procuramos conhecer os nossos parceiros de modo a evitar qualquer forma de violência, somos nós que... os familiares são terceiros como os gabinetes de atendimento à MULHER e a criança. Uma família isenta não toma partido, tenta conciliar as partes perante um problema que é do casal como tal mas que se repecurte para a família (lembre-se que os casamentos/uniões entre nós ultrapassam as simples uniões de 2 pessoas, são uniões de famílias através de 2 pessoas).

Conhecimento mútuo e conversa/diálogo no veradeiro sentido (monólogos são outra forma de violência) resolvem muita coisa e cimentam uma relação.O castigo é uma reacção a algo que foi feito. É isso que se tem que evitar.

A espiral de violência tem que ser parada e isso passa por olharmos para o problema sem o preconceito de que o causador é apenas um e nunca o outro. Issso é combatido com muito conhecimento.

Unknown disse...

Hei!... não consigo resistir à tentação deste debate.

Vamos ver: O que é aceite como explicação difere de uma sociedade para a outra e também dentro da sociedade muda de um tempo para o outro (Lawton D. 1983:25). portanto, a violência de que estamos a falar é transversal sim mas as causas?

JM aborda para mim questões muito pertinentes estabelece links a inculturação à algumas situações de violência o que acho pertinente.

Agora, nini, não acho que um pai pode educar a sua filha a ser submissa! em qualquer sociedade existe quem dá a última palavra, no sul de Moçambique este tem sido o homem mas a tentativa sísmica de trazer maneiras de viver de além mar por hipótese pode ser uma das causas de violência na actualidade, quanto ao seu 2º parágrafo prefiro descordar enquanto isso continuar hipótese. outra coisa, é que a nini mesmo sabendo que alguem pode concordar dialogar consigo mas não resolver prefere se enganar sem ver o real, a violência seria a melhor via sim mas é a única em todas as situações?

AFamília. não sei porque é que a família do marido é que a tal que promove violência se nós conhecemos mulheres que prefiriram seguir os conselhos das suas famílias e hoje são infelizes! quando a nini tem a casa da sua mãe, avô, tio, tia etc como esconderijo para se encontrar com o seu amantes (ex) estará a sua família a promover o bem bom do vosso cantinho de alegria...

Fixemos a ideia de causa e efeito e, que devemos contexualizar os nossos desejos. "nada justifica a violência" mas o colonialismo justifica a violêcia usada pela Frelimo para alcançar a independência. porque é que tendemos a dizer o que agrada ouvir mesmo sabendo que o que soa mal pode ser a verdade?

Abraços. BJS a Vasikate

Ximbitane disse...

Gente, entre tantos tapas, vocês, em particular os vavana, esqueceram-se de nos felicitar pelo dia. Que coisa feia!

Apesar de tudo, tenho para mim que, no essencial, os ilustres corroboraram a ideia que a violência é, a todos os títulos, condenável.

A consciencialização de um erro, como é sabido, é preceito indispensável para evitar cair nele.

Ao denunciar-se a violência contra a mulher, nomeadamente através da consagração do (seu) Dia Internacional, pretendeu-se ampliar as condições que permitam a erradicação deste flagelo social.

Independentemente da cor das lentes com que é observada, a realidade objectiva está lá: não adianta refugiarmo-nos em esconderijos verbais mais ou menos subtis.

A mulher não é, infelizmente, a única vítima duma sociedade injusta mas isso não nos confere o direito de assobiarmos para o lado porque só a ela é que se defende aos berros.

O combate por uma sociedade mais justa, desencadeia-se em várias frentes e a luta pela dignificação da mulher é, quer queiramos ou não, uma componente fundamental para libertação de todos e de todas.

PS: Desculpem-me, mas posto que não pude responder a cada um, como é meu hábito, fi-lo num unico texto mas, a reflexão é válida para todos.

Anónimo disse...

'Gente, entre tantos tapas, vocês, em particular os vavana, esqueceram-se de nos felicitar pelo dia. Que coisa feia!' O, Ximbitane, felicitar por que dia?

Ximbitane disse...

Não é, anónimo? Que dia mesmo?

Anónimo disse...

Ximbitante, esqueci de assinar, a pergunta e minha, Emidio Gune

Ximbitane disse...

Já desconfiava da autoria do anonimato. Mas, esclareça, caro Emidio, a ironia é deliciosa, não é?

Não era esta uma excelente e unica ocasiao para que voces, vavana esclarecidos e lúcidos, se solidarizassem com esta causa?

O pior cego, é aquele que não quer ver, não acha?

amosse macamo disse...

mana na cunhada, swi tsikeni minga mbomba, aleswi ungo khoma ukoka utamucuma kwini munwanhane waku shonga, leswi ungo khoma u ndondovuza, uto dlaya mata....tchova Boy, salimo Muhamad, um apelo a nao violencia contra a mulher onde este aconselha aos dois (mana e cunhada) a concordia....tarefa dos dois n'e?
unitsemi n'lhungu nkatanga hi bhandi, avana va wena Xidiminguana vata yanwa kwini murhandziwa-Xidiminguana, esta musica faz prostar minha alma de joelhos...a mulher entre choros diz "cortaste-me o mamilo de tanta porrada, os teus filhos onde vao receber o aleitamento meu amor(murhandziwa)...mesmo violentada, esta mulher lembra-se de dizer murhandziwa....a violencia nao compensa, destroi o casal e aos filhos, dai que canta Mucavele no Batrige, ni rivaleli nkata nyo phazama...hi ta fundhissa vana, ma hanhela manene nkatanga...um apelo ao perdao,para ensinar aos filhos a boa convivencia....bem hajam todos e principalmente as vasikate que trouxeram este tema apaixonante como elas.....as mulheres

Anónimo disse...

Ha ha ha, Ximbitana, sou mesmo cego mas vamos la, sei de 16 dias contra violencia das mulheres mas eu quero 365 dias por ano contra violencia, sem precisar de anuncios mas, como parte do nosso quotidiano.

Anónimo disse...

Ximbitane, sem ironia, o ultimo post e meu, Emidio Gune

Ximbitane disse...

Tudo bem, Gune. Concordo que todos os dias sejam importantes para frisar o facto mas não pela via do silêncio.