sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Preservativo feminino: a solução ?



O fraco ou nulo poder de negociação feminino tem sido um dos factores que tem feito com que o número de mulheres infectadas ou seropositivas não pare de aumentar mesmo estando estas cientes dos riscos que correm em relações sexuais não protegidas e a estrutura dos genitais femininos não contribue muito para que estas tenham prazer sem riscos.

As alegações de muitos homens, cujas mulheres solicitam o uso do preservativo no acto sexual, têm sido de que com “o plástico não se tem prazer” ou que “banana com casca não anima”. Alguns vão ao extremo de acusar a mulher de viver promiscuamente pelo que está se segura no preservativo para se fazer passar por santa, logo a camisinha como protector fica descartado pois a mulher quer provar que não é nada do que se lhe chama.

O preservativo feminino, apesar de ser a melhor alternativa para a mulher se prevenir de doenças sexualmente transmissíveis, pouco é procurado por falhas de promoção, elevado custo e o seu aspecto desagradável. Face a isto, pode-se correr o risco de afirmar que os poucos preservativos femininos usados no nosso país são-no por fazer parte de tímidas campanhas de ONG’s e governos de países onde estes não tiveram sucesso.

Outro factor a ter em conta, é que este não é visto como uma alternativa ao preservativo masculino e perde ainda mais pontos por não ser, como tanto gostamos, alvo de distribuição gratuita nos nossos centros de saúde. Isto é extremamente prejudicial se levarmos em conta que o preservativo feminino é mais eficaz, por ser mais espesso e ter uma área de cobertura mais abrangente.

O preservativo feminino é um método contraceptivo de barreira sob forma de uma bolsa de poliuretano que se ajusta na vagina que protege contra várias doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Quando o preservativo estiver em posição durante a relação sexual não há nenhum contato da vagina e da cérvice com a pele do pênis ou suas secreções e pode ser inserido até 8 horas antes do sexo.

Mas, sendo que não há bela sem senão: ele pode fazer um pouco mais de barulho durante a relação sexual. A colocação não é tão simples quanto a versão masculina, exigindo um pouco mais de concentração na colocação. Depois de colocada, uma pequena parte fica visível fora da vagina, criando uma aparência um pouco esquisita para quem não está acostumado tal como o preservativo masculino que também já deve ter causado quando começou a ser utilizado!

Mulheres, joguem com os vossos trunfos! Se na hora da negociação não conseguirem se impor, usem a única alternativa para a mulher se proteger quando um parceiro não quer usar preservativo masculino: o preservativo feminino pois o poder de decisão na hora do sexo, que é uma escolha de vida, ainda está em nossas mãos.

38 comentários:

Nini disse...

A falta ou a pouca promoção e incentivo ao uso do preservativo feminino contribui, de certa forma, para diversos pensamentos absurdos na cabeça dos homens.

Muitas mulheres, na sua maioria sem instrução, aceitam ter relações sexuais com seu parceiro sem preservativos para garantir o casamento assim o como um lar. Tudo isso por falta de campanhas fortes direccionadas somente para o preservativo feminino.

Eu e o meu parceiro usamos “o masculino” como anti-conceptivo. Uma vez que expermitar “o feminino” que uma colega me oferecera . Nunca os tinha visto antes... olha, tive grande dificuldade para usar e até ontem ainda não os usei (quem sabe hoje...kkkkkk) porque não sabia com colocar. A minha colega teve a mesma dificuldade. Sou mais tarde viria a saber através de um programa da TV RECORD. Agora imagina as mamanas nas zonas recondidas deste país. Eu acho que deveria haver instruções na embalagem.

Unknown disse...

Nini tem razão até parece mais lubrificado que algumas marcas do masculino.

Eu também sou de opinião que nos ajudaram na redução de incertezas ahahah é quando você esquece o condom muita das vezes esse dia vais buinhar. ao passo que se instruir a Femidom ela também passa a portar mesmo sem bolsa nesse dia.

Hei nini depois de experimentar as novas instruções venha nos instruir tu já... kkkkk, vais servir de cubaia.

BJS

Patricio Langa disse...

Vasikate.
Continuo a achar selecção que fazeis dos temas bastante interessante. Este, desta postagem, confirma isso. Bom, deixe-me ir directo a razão do meu comentário.
“O fraco ou nulo poder de negociação feminino tem sido um dos factores que tem feito com que o número de mulheres infectadas ou seropositivas não pare de aumentar mesmo estando estas cientes dos riscos que correm em relações sexuais não protegidas e a estrutura dos genitais femininos não contribui muito para que estas tenham prazer sem riscos”.
Fui durante alguns anos auxiliar de pesquisa nalguns projectos conduzidos por pesquisadoras do “género” em temas relacionados com a saúde sexual e reprodutiva, violência doméstica e por aí em diante. “O fraco ou nulo poder de negociação feminina” foi em muitas dessas pesquisas interpretado como consequência da operação de mecanismos de dominação masculina incrustados, incorporados, naturalizados e por isso silenciados duma sociedade estruturalmente marcada pelo modelo androcentrico e patriarcal nas relações de poder. Este na verdade é o quadro-teórico e analítico em que assenta a maior parte dos feminismos. Nesta perspectiva a mulher vista, quase sempre, como o elo mais fraco. Aquela cuja posição nas relações de poder é subalterna. Alias, como essas estruturas afectam toda sociedade elas próprias concorrem para perpetuação da dominação.

Depois de alguns anos desta teoria - que hoje mais me parece um doutrina - e de alguma pesquisa empírica (e claro experiência individual) começo a ter dúvidas em relação a esta estória do “fraco ou nulo poder de negociação” Exceptuando os casos extremos de violação sexual, portanto – não se aplicando o termo negociação – as pressões sociais para o uso ou não do preservativo numa relação sexual, num contexto de intimidade, se não diluem e anulam os efeitos de relações estruturais de poder desigual, tem peso praticamente idêntico para homem e mulher. É, portanto, problemática, para mim, a assumpção de que a mulher têm “fraco ou nulo poder de negociação”.

PS: Por favor, ninguém diga que escrevi estas linhas a professora Maria Conceição Osório. Senão dá-me um puxão de orelhas. Osório, para mim, é um verdadeiro exemplo da conciliação do irreconciliável activismo social e ciência. Um dia explico porquê!

Yndongah disse...

Nini
Tens toda a razão em relação a falta de divulgação, nao só no que diz respeito as instruçoes de uso mas também aos índices de eficiência .Eu ouvi dizer que a colocacao do ”dito cujo” é um processo , chega a ser preciso agachar, e que tambem escorrega e sai no meio do acto hiiii!

E veja que ele já existe ha mais de 10 anos, e continua desconhecido tanto pelas mulheres quanto pelos homens.Penso que pela idade e pelo feed back ja se deviam ter feito estudos para melhorar certos aspectos como o barulho, a aparencia entre outros.

Amigo Chacate, vou lhe fazer companhia de camarote a espera das instruçoes da Nini rsrsr

Patricio,
Nao sei até que ponto a amostra da tua pesquisa empirica (e da experiancia individual) é representativa ao ponto de te levar a ter as duvidas que tens. Eu continuo a achar que no nosso contexto, o homem ainda tem maior poder de decisao em relação a quando e como deve ter relações sexuais. São poucos os casos em que a mulher recusa sexo ao seu parceiro por falta de preservativo, e este consente. Penso que se houvesse espaço para negociação nem haveria necessidade de se criar o feminino, com todos os defeitos que tem....

O preservativo feminino deve(ria) ser mais um símbolo da emancipação da mulher, dar lhe uma segurança, de modo a que se ele não usa, ela usa!

Bom domingo a todos

Avid disse...

Negociação lol???? Confesso que sou meio radical com certas coisas. Com a vida por exemplo!!! O uso da camisinha é essencial. Não estou familiarizada com o uso da camisinha feminina, por isso achei interessante a escolha do post. Normalmente ando munida da camisinha masculina na carteira e se lixe quem acha que os motivos são os mais baixos. Prezo a minha vida, acima de tudo e não suporto quem não sinta o mesmo.
Assumo… ta na hora de saber mais sobre o assunto, mas realmente acho que a masculina é a mais acessível, mais barata e de uso menos (muito menos) complicado. Mas, no caso de…
Bjs meus

Reflectindo disse...

Na minha opinião, o que está em questão é infidelidade. Os parceiros prometem fidelidade e no caso de infidelidade nenhum deles quer deixar sinal.

Sem eu pretender ser moralista, fidelidade entre parceiros é preponderante na prevenção de DTS. Ora vejamos, é difícil entre comprometidos manter relações sexuais sempre com camisinhas. Isto não com justificação de que o plástico não tem prazer, mas porque querendo ter filhos por exemplo, o acto sexual é normalmente sem camisinha. Se houver acordo para teste primeiro, ainda bem...

Em actos sexuais fora de parceiro/a com quem se compremeteu fidelidade devia ser sempre com camisinhas sejam elas femininos ou masculinas. Aqui não vejo porque razão o poder de negociação da mulher deve ser fraco ou nulo. Aliás, aqui não é para negociação, mas sim: “sem camisinha não há acto sexual, pelo menos, não penetração”.

A propósito, há três anos atrás ouvi que para a camisinha feminina ser efectiva tinha que ser aplicada pelos menos duas horas antes do acto sexual. Será isso? Sendo isso, acho ela ser muito complicada e consequentemente não solução sustentável, mas com certeza uma alternativa.

Anónimo disse...

Lugar aprazível este e tema interessante. Sem repitir o que Patrício problematizou, vamos lá ai.

Escrevem que, ‘O fraco ou nulo poder de negociação feminino tem sido um dos factores que tem feito com que o número de mulheres infectadas ou seropositivas não pare de aumentar...’
Aqui surgem três problemas. I, como se chegou a conclusão de que as mulheres são as mais infectadas? Como se chegou a conclusão de como ficaram infectadas? Qual é o perfil dessas mulheres?
II. Os homens produzem vírus de imunodeficiência humano (VIH)? Se sim, demostrem! Se não, estão a culpabilizar as mulheres que quereis defender, me explico, se o homem infecta a parceira em casa é porque outra mulher o infectou antes, logo as mulheres é que são propagadoras do VIH!
III. Um dos motivos que as prostitutas apresentam como responsel pela busca de seus serviços por homens casados é que procuram sexo oral e anal, que as parceiras recusam-se a praticar.... li bem que as mulheres não negoceiam por falta de poder?

Escrevem também que, 'As alegações de muitos homens, cujas mulheres solicitam o uso do preservativo no acto sexual, têm sido de que com “o plástico não se tem prazer” ou que “banana com casca não anima”'.
'O preservativo feminino, apesar de ser a melhor alternativa para a mulher se prevenir de doenças sexualmente transmissíveis, pouco é procurado por falhas de promoção, elevado custo e o seu aspecto desagradável'.
Problema, homens e mulheres não usam preservativo, pelas mesmas razões, repararam?

Escrevem ainda, 'Outro factor a ter em conta, é que este não é visto como uma alternativa ao preservativo masculino e perde ainda mais pontos por não ser, como tanto gostamos, alvo de distribuição gratuita nos nossos centros de saúde'.
Problema, onde distribuem mechas, tissagens, extensões e capulanas grátis que leva a que as mulheres tenham isso? Se puderem espreitem aqui, http://analisesocial.ics.ul.pt/index.htm
Emidio Gune

Patricio Langa disse...

Cara Ynda
Obrigado pela réplica.
Penso que me entendeste mal. O meu argumento não tem a sua validade nos aspectos metodológicos das pesquisas nas quais disse que participei. Não foi uma, foram várias durante alguns anos. Não estava igualmente a apresentar resultados de nenhuma delas em particular. O que fiz, ou tentei, foi apresentar o quadro teórico a partir do qual esses estudos eram feitos. Esse quadro teórico é que já parte de pressupostos problemáticos e vai a busca de base empírica para o confirmar. É mais um quadro ideológico, que teórico, normativo que hermenêutico das praticas sexuais entre homem e mulher. O próprio termo “poder negociação” é introduzido aprioristicamente para colocar homem e mulher em lugares diferentes no que diz respeito a relação sexual (social). Eu referi que tirando os casos extremos de violação sexual (rape) existe um longo percurso até ao coito. Não sei se esse período é de negociação, mas de algum nível de intimidade, no qual as hierarquias de poder são difíceis de estabelecer ainda que existam. Tenho por isso reticências em relação ao argumento de homens super poderosos. É verdade que isso varia em função da instituição que regula esse momento de intimidade, “ficar”, “namoro”, “noivado” “casamento” até aos relacionamentos depois do divórcio. Não queria apresentar as coisas em termos estatísticos do tipo “ são poucos os casos em que a mulher recusa sexo ao seu parceiro”. Não achas que o mesmo poder que impediria a mulher de sugerir que homem usasse o preservativo operaria para a obrigar a não usar ou para retirar o feminino? Se concordares comigo, então, repense esta assumpção “Penso que se houvesse espaço para negociação nem haveria necessidade de se criar o feminino”.
O Emídio Gune coloca questões interessantes no seu comentário. Já leste? Para terminar. Não se trata de disputar quem têm maior poder de negociação. Trata-se, pelo menos para mim, de saber se “poder de negociação” é o termo que capta melhor o momento que antecede a decisão conjugal ou individual de usar ou não o preservativo. Eu acho que não.

Ximbitane disse...

Nini, estamos muito gratas pela sua presença neste espaço de vasikates, e sendo você uma n’sikate, é pois uma razão para nos contentar-mo-nos em dobro.

Cingindo-me ao seu segundo parágrafo, que resume a essência do artigo, concordo plenamente quando se refere as campanhas pela promoção do preservativo feminino.
N’sikate, apraz-me saber que você e seu parceiro fazem uso do preservativo, ainda que seja masculino, como anticonceptivo.

Mas, decerto que vocês sabem que o preservativo é muito mais do que um simples anticonceptivo, é uma barreira para as DTS’s.
Sendo você uma n’sikate “esclarecida” e nunca tinha visto ou experimentado um preservativo feminino o que podemos esperar de outras vasikates, também esclarecidas, e outras menos ou não esclarecidas? Aquelas “mamanas nas zonas recondidas deste país”? É justamente ai onde devemos centrar o nosso debate.

Obrigada pelo seu comentário e intimamo-la a voltar sempre.

Ximbitane disse...

Muito bem dito, CJ! Na falta do habitual e costumeiro preservativo masculino, o Femidom, preservativo pode ser a solução ao invés de se adiar o acto ou então de se fazê-lo à vaca fria. Este seu comentário vai de encontro com o titulo do artigo “Preservativo feminino: a solução?”

Ximbitane disse...

Patricio, sempre nos faltarão palavras para o agradecer quer pelos elogios como pelas criticas construtivas que mais não fazem do que nos fazer crescer e acima de tudo reflectir. E, sem dúvida, não podemos deixar de nos gabar por ter o privilégio de merecer a sua consideração pelas recomendações que faz conforme testemunha Emidio Gune.

Indo directo a razão do seu comentário, também estou plenamente de acordo com esse “quadro-teórico e analitico” que apresenta e constitui objecto de estudo seu e de pesquisadoras de género. Também não é menos verdade que as próprias mulheres concorrem para a perpetuação da dominação masculina. Estando perante um quadro teórico, caro Patricio, não será o preservativo feminino a solução?

Se o homem não concorda em usar o preservativo, porque o incomoda e outras alegações que caiem em saco roto, muitas vezes por nem sequer saber colocá-lo, sendo que a mulher será quem o portará, dentro do seu orgão genital, não estará, neste gesto, a preservar-se e ao seu companheiro? Era esta questão que devia se ler nas entrelinhas, segundo a sugestão do titulo.

Aliás, muitas vezes, os homens, sem querer generalizar, logicamente, proibem o uso de anticonceptivos (pilula, DIU e outros) a sua esposa refugiando-se na ideia de que filhos representam riqueza sem saber que este espaçamento de gravidezes (e não proibição de fazer o número de filhos que desejar, como muitos pensam, ou então limitar o prazer masculino) é fundamental para a integridade fisica da própria mulher.

Mas, para o Patricio e outros amigos da blogsfera, decerto esclarecidos e com mentes “avançadas e esclarecidas” não vêem a questão como uma negociação: se há preservativo, vamos embora, se não há, adiamos ou então vamos soprando para que “o dedão” não caia entre a ida até a esquina e o regresso ao...

PS: Vou sim queixar-me a Profa. Maria Conceição Osório, ou então explique-se porque não quer que ela saiba deste seu posicionamento, hehehehehe

Ximbitane disse...

Subscrevo o que dizes, mas, mesmo assim, acho que há necessidade de haver um preservativo feminino. O preservativo femenino não é só mais um, é um! O defeito dele advém do nosso receio em não saber manipulá-lo e usá-lo.

Pessoalmente até acho sensual essa idéia dele fazer barulho, deve dar mais ritmo e batida aos nossos gemidos e impropérios na hora H! Vai por mim, Yndoh, experimenta...

Ximbitane disse...

Pois é, Avid, muitas vezes devemos ser extremistas, sobretudo quando o que está em risco é a nossa vida. Na falta do preservativo, as expressões, “estou limpo”, “não confias em mim”, “vamos lá, oh querida”, “vou meter só a cabeça” nessa hora não servem: ou parte ou racha! Não há meio termo!

E, querida n’sikate, não te preocupes com as más línguas: “os prudentes serão, um dia, reconhecidos em detrimento dos covardes”, diz algum canto da Biblia.

Ximbitane disse...

Devemos entender, do seu primeiro paragráfo, que quando os homens acusam as mulheres de quererem usar o preservativo, porque pretendem esconder infidelidades, na verdade eles (os homens) é que querem esconder a sua facadinha matrimonial ou relacional?

Quanto a não necessidade de negociação, entre parceiros que juraram fidelidade um ao outro, concordo em genero e número, sobretudo, Mestre, na afirmação de que “sem camisinha não há acto sexual, pelo menos, não há penetração”. Mas, Mestre, infelizmente não é o que ocorre.
O simples facto de se “assinar” o pacto de fidelidade faz com que os parceiros optem, na base da confiança, em não usar o preservativo, aqui nem sequer importa o tipo: o habitual masculino ou a desconhecida ou pouco difundida versão femenina.

Respondendo a sua dúvida, sobre a pertinência de colocar o preservativo 2h antes do acto sexual, o que o seria um “atout” a menos para o caso, devo dizer que este pode ser colocado antes e manter-se no organismo da mulher durante 8h. Acho que é ideal, por exemplo para mulheres que vão consumir alcool e que sobre efeitos deste, tanto elas como os companheiros, muitas vezes de ocasião, já não se dão conta dos seus actos que não “o de fazer”.

Ximbitane disse...

Muito nos apraz ter a honra da sua visita neste cantinho, que se quer de reflexão, no ponto de vista feminino, e, sobretudo, a sua argumentação que se revela interessante, sinuosa e armadilhada. Sempre o dissemos e sempre o diremos: não somos experts em nada, apenas usamos a nossa sensibilidade... de Vasikates.

Julgamos ser um dado adquirido as investigações produzidas por milhares de investigadores no que respeita aos elementos aqui citados e que respeitam ao HIV/Sida. Logo, perguntar, por exemplo, como se chegou à conclusão que as mulheres são as mais afectadas não equivale à proposta de discutir o sexo dos anjos? Os estudos disponiveis, e amplamente divulgados, não nos informam justamente isso? Será que o ilustre pretende uma discussão académica sobre este assunto? Como disse acima, aqui vale o tacto e sensibilidade femenina.

A Amnistia Internacional, por exemplo, revela as proporções que o impacto do HIV/Sida está a ter nas mulheres pobres da África do Sul baseando em entrevistas nas áreas rurais que vivem infectadas pelo HIV/SIDA. A AI descreve a opressão vivida por estas mulhrees na relação com os seus companheiros e com a maioria da comunidade devido ao seu género, a condição de portadores de HIV/Sida e da marginalização económica.
Elas continuam a sofrer atitudes e práticas discriminatórias, particularmente por parte dos homens e vivem num ambiente com altos niveis de violência sexual. Muitas mulheres entrevistadas pela AI disseram que muitas vezes se sentiram incapazes de se protegerem contra o virus HIV por considerarem que corriam o risco de serem vitimas de violência pelos parceiros se sugerissem o uso do preservativo.

Caro Emidio Gune, nunca pretendemos converter Vasikate num espaço escolástico reservado a uma elite. Como pode constatar, somos bem mais modestas e realistas mas, não perdemos de vista a realidade social e cultural circundante. E, prometemos, vamos fazer do seu nosso espaço. Volte sempre!

Yndongah disse...

Patricio,
Perdoe me o mal entendido e receio continuar equivocada,

Concordo contigo quando dizes que existe um longo percurso até chegar ao coito e eu acredito que a negociação do o recurso ou não ao uso do preservativo faz parte desse percurso.O fraco poder de negociação referido na postagem diz respeito a dificuldade que a mulher tem em condicionar a relação sexual ao uso do preservativo masculino. As atitudes dos homens e das mulheres estão ligadas a representações simbólicas de masculinidade e feminilidade, e, apesar do "nível de intimidade, no qual as hierarquias de poder são difíceis de estabelecer" prevalece ainda uma certa dominação masculina, veja que apesar do uso do preservativo ser benéfico para ambos, a mulher era dependente do homem para usufruir desse benefício, a introdução do feminino tem o mérito de reduzir essa dependência.

Podes ter razão em relação ao poder que o homem usaria para impedir tanto o uso do masculino quanto do feminino, esta situação é propensa aos casos em que a separação entre homem e mulher (hierarquia) é patente, porém existem casos em que mesmo prevelacendo o clima de intimidade, sem hierarquia, na hora "H" o homem se apercebe que não tem o preservativo mas mesmo assim não deixa de “rolar”.

Ximbitane disse...

Agora eu é que estou achar que há mal-entendidos. Na verdade, ao falar de negociação, pretendia-se referir ao momento em que parceiros estão pelados, suados e acalorados com a perspectiva de... e putz, não há preservativo!

Muitos homens, dirão, "Opa, paciencia, façamos assim mesmo"; "Oh querida, vou só meter a cabecinha"; "Mãe, vais deixar-me assim?"; "Só um pouco, juro que não venho dentro de ti". Outros dirão "Que se lixe, não é um plastiquinho que me vai impedir"; "Quero lá saber, vamos assim mesmo!".

É neste momento que as possibilidades de negociação resultam infrutiferas. Portanto, negociação entre paredes e no calor dos acontecimentos! Se a mulher, na falta do preservativo masculino, apresenta o preservativo feminino não será a solução?

Júlio Mutisse disse...

Mama Mia, como é bonito de ver como a simples abordagem do "preservativo feminino" pode abrir espaço a um debate amplo e franco.

Faz se escola aqui. Uma capacidade de argumentação fora de série. Estou a descobrir coisas de amigos meus que eishhhhhhhh.

Yndongah,

acreditas mesmo que nesta época, continuamos longe do que seria ideal em termos de "atitudes dos homens e das mulheres ligadas a representações simbólicas de masculinidade e feminilidade" a ponto de ainda prevalecer uma certa dominação masculina? Acreditas que a "introdução do femininotem o mérito de reduzir essa dependência"? Como?
Força aí

Anónimo disse...

'Caro Emidio Gune, nunca pretendemos converter Vasikate num espaço escolástico reservado a uma elite.' Obrigado pelo mimo Ximbitane, partilhei duvidas, apenas isso. Sobre elites, depende do que estejamos a significar com a palavra e nisso pode ser que o lugar ate seja de elite. Nao acha curioso que para defender o seu argumento vai buscar fontes 'escolasticas' as mesmas que aparentemente estou a usar? Coversando a gente partilha, esse e o meu lema.

Anónimo disse...

Desculpe Ximbitane, o ultimo comentario e meu. Emidio Gune

Ximbitane disse...

Devo depreender, pelo último comentário anonimo, que se trata do estimado Emidio Gune? Se estiver errada, corrija-me.

Sobre esse mesmo comentário, a si dirigido, desculpe-me pelo excesso de zelo, longe de mim dar-lhe um "mimo" amargo.

A escolasticidade de que o caro fala, serviu apenas para enfantizar a sua solicitação.

Mea culpa! Realmente a conversar é que a gente se entende. Estamos juntos? Ai vai um mimo especial, aquele abraço

Ximbitane disse...

Ops, fiquei com a ideia de que o link proposto pelo Emidio Gune fosse um espaço seu. Afinal trata-se de outra coisa! Obrigada pela consideração

Anónimo disse...

Ximbitane, excesso de zelo nada, acontece comigo e com muitos outros tambem. Pronto, continuamos a conversar neste ou noutro post. Uhmmm, obrigado pelo ultimo mimo fez-me ganhar uns kilitos. Na paz, partilhando.

Anónimo disse...

'Ops, fiquei com a ideia de que o link proposto pelo Emidio Gune fosse um espaço seu. Afinal trata-se de outra coisa!', Ximbitane, agora e minha vez de dizer mea culpa. Chegada ao link (http://analisesocial.ics.ul.pt/index.htm) por baixo do subtitulo 'Pesquise na analise social' do lado direito tem duas janelas. Na janela Autor digite 'Gune' e clique pesquisar, tem la uma pequenina reflexao que fiz sobre o negocio do uso do preservativo e as regras que o orientam. Obrigado pela chamada de atencao. Emidio Gune

Ximbitane disse...

Eu é que agradeço, Emidio Gune!

Patricio Langa disse...

Caras Vasikate, X!mb!t@ne e Yndongah,

Em 2003 eu e um colega, Manuel Macia, decidimos estudar o “homem” do ponto de vista sociológico. Os dois tinhas tido contacto relativamente longo e portanto alguma familiaridade com os trabalhos do WLSA (woman& law in Southern Africa). Os trabalhos do WLSA tinham quase todos praticamente os referencial teórico de que fiz menção. Um referencial que constrói um homem todo-poderoso, dominador. Nós querias saber como esse homem é possível? Que elementos da sua socialização, primária (família) e secundária (escola) e em instituições totais (quartéis) concorriam para a produção desse homem que impõe, não aceitar negociar etc. Fomos estudar os homens de lugares considerados o baluarte da masculinidade brutal: Chibuto e alguns quartéis. Não nos limitamos a estudar os homens em si. Procuramos captar o contexto relacional da produção das suas identidades masculinas. Enfim, não vou relatar aqui todo o estudo. O que pretende sugerir é que surpreendentemente encontramos não um homem, mas vários tipos de homens. Não encontramos uma única identidade masculina, mas manifestações múltiplas de masculinidade. Isso levou-nos a ter dificuldades de lidar com a ideia simplista de um homem (poderoso) e uma mulher (submissa). Vimos homens stressados por medo de “falhar” na ora do coito. Para esses o imaginário feminino já havia criado até um termo: “Unga ni chateari”. Vimos e conversamos com homens que apesar de saber tudo sob a contaminação do HIV preferiam furar o preservativo do que ouvir a mulher a reprová-lo na sua masculinidade porque não a molhou: “Cujda a ni tsacamisa” (ele tem de me molhar) significando que deve haver troca de fluidos sexuais. A própria ideia que se atribui ao homem de que ao fazer sexo esteja a pensar na reprodução é falaciosa. É preciso conhecer-mos bem que tipo de instituições estão por detrás dessa exigência. Bom, isto está a ficar longo. Para terminar, deixe-me repisar que não está em causa aqui a importância do preservativo feminino. O que eu duvido é que este dê mais poder (empodere a mulher) como propala por ai a industria dessa camisa. O problema não está em quem tem mais ou menos poder. Essa relação de poder desigual, se é que é assim, afecta quase na mesma proporção a ambos os sexos. Aliás, não acho que o problema seja essa desigualdade de poder. As coisas são bem mais complexas do que parecem. PS: No sul de Moçambique até a figura que mais tempo passava e moldava o Homem era da mulher enquanto os homens trabalhavam no Joni.

Ximbitane disse...

Patricio, interessantes e enriquecidores contributos trazes a este, e a outros debates, neste cantinho, diga-se em abono da verdade. E logico que "cada um é como cada qual", como se diz vulgarmente, dai a exitencia, dentro da figura de homem "waka ximbutso", de muitos outros homens.

Essa do homem recear falhar na hora H, é um receio de muitos (senao de todos os homens e mote para um outro artigo, hehehehe, obrigada pela dica!). Muitos homens ha que preferem nao colocar o preservativo com o receio de ver a "coisa" despencar nesse entretanto. E se a mulher ja o tiver colocado?

Lamentavelemente, narras um aspecto cruel, no meu ponto de vista, onde a masculinidade do homem é medida pelo "banho coital kudja ani tsakamisa " mesmo estando os parceiros ou um deles consciente dos riscos quanto ao HIV/Sida. Por ventura, essas mulheres nao se sentiriam txakamisidas se "a molha" ficasse dentro delas, no preservativo feminino?

A falaciosidade da atribuiçao de todas as culpas, o que nao é necessariamente isso, quanto a vontade macho de querer perpetuar a procriaçao pode ser repartida com a mulher (umas dos varios tipos de mulher) que também vê nesse acto a expressao maxima da sua feminilidade

Patricio Langa disse...

Estimada X!mbit@ne.

Bom, penso que as vezes que reconheceste o valor da minha participação neste espaço com elogios já satisfazem o meu ego. He,he,he. Em todo caso agradeço, elogio nunca é demais. Devo enfatizar no entanto que o vosso espaço tem mérito próprio. Um deles é a possibilidade que vocês conseguiram e bem criar de fazer dele mero espaço de troca e esclarecimento de ideias. Parabéns por isso. Retomando o nosso assunto. Penso que começamos a encontrar pontos de convergência. Ohh, talvez sempre existiram. Um deles é o reconhecimento da complexidade do assunto. Não se trata apenas de homens bastante poderosos que não querem negociar o uso do preservativo. Não se trata do homem e da mulher, mas dos homens e das mulheres, das masculinidades e das feminilidades. A falha que me referia não é aquela apenas dos ponteiros do relógio marcarem teimosamente 6.30h. O sucesso da relação sexual no contexto a que me referia vai para além da capacidade de manter a erecção, se bem que está é fundamental. Perguntamos a um grupo de mulheres quando é que elas se sentiam satisfeitas no acto sexual. Essas perguntas foram feitas por outras mulheres. Interessante é que quase todas se referiram ao memento da ejaculação masculina como uma das condições para essa satisfação. Mais pano para manga. Essa da coisa “despencar” na hora- (H)- de colocar o preservativo é apenas mais um detalhe desse contexto de intimidade que a historia do homem todo poderoso parece não captar. Colocas uma boa pergunta, nomeadamente a de saber se molhar no preservativo feminino ainda é molhar. Não sei. A exigência ou necessidade de molhar não é apenas desejo masculino. Isso faz parte de um conjunto de significados atribuídos a troca de fluidos sexuais durante o acto, não importando aqui que se trate de preservativo feminino ou masculino.

Abraço

Ximbitane disse...

Patricio, ainda bem que convergimos! Mas, não me entra na cabeça essa de que as pessoas, na posse de conhecimentos sobre um mal que os pode levar a morte, enveredem por um caminho directo ao coval.

PS: Obrigada por outra dica, alias já estou a esboçar o assunto e agora tenho mais força para ir em frente

Anónimo disse...

Esta bom isto, Ximbitane, o ponto e que por estas bandas as pessoas nao transam a pensar em saude, mas a pensar na intensificaco de desesos e sua materializacao em actos de prazer. Emidio Gune

Ximbitane disse...

Será que pensam no prazer, Emidio Gune? Na materialização do acto em si até pode ser, algo do tipo quantidade inversa a qualidade.

Juro que não vejo como o simples "tsakamissar" pode dar prazer! E o resto? Estou revoltada!

Anónimo disse...

Ximbitane, Ximbitane, o que e prazer? Diferentes maoo numa mesma coxa podem provocar cocegas, irritacao ou dar prazer. Ah, sonos solitarios podem tambem dar prazer. O que e prazer senao aquilo que achamos que seja e que pode ser um 'tsakamissar'?

Anónimo disse...

Ximbitane, de escrever com prazer esqueci-me de assinar o ultimo post, Emidio Gune.

Ximbitane disse...

Hehehee, Emidio, Emidio! Tenho muito que aprender dessa historia de prazer. E como as más linguas dizem que o ilustre é professor... Saque dai umas lições!

Anónimo disse...

Oh, Ximbitane deixe ai as 'mas linguas', que quando ficam boas tambem podem dar prazer. Espere, a fofoca tambem da prazer, entao as mas linguas tambem dao prazer... rs rs rs...Emidio Gune

Ximbitane disse...

Hawena, Emidio Gune promete! Hehehehe, onde são as inscrições para as aulas práticas? Teoria acho que chega a que anda por cá, não concorda?

Se quiser, posso arranjar outros estudantes com a condição de que isso se faça sentir na minha propina, hehehhee... Vamos lá...

Anónimo disse...

O Ximbitane, ja estas inscrita mas lembre que agora nova moda da educacao, e ensino centrado no estudante, he he he. Quanto as propinas, relaxe, os prazeres das conversas pagam-se por si proprios...Emidio Gune

Ximbitane disse...

Pode-se dizer, de boca cheia, que créditos é o que não lhe faltam, Emidio Gune. Vê-se ao longe que é 'profissa' e que só avalia competências pelo que 'Bolonha' esta perto. Aguardo a lição um