Eu sou a outra
Aquela que todos condenam
Que ao meu lado ele é feliz
Que tudo o que eu fiz, nunca falam
Se limitam a ofender-me
Lutam para me destruir
Meus sentimentos ignoram
Os meus olhos sempre choram
Na rua me chamam nomes
Trambiqueira, interesseira
Já dizem que eu não te amo
Que te engano com outros homens
Eu choro, eu choro
Minha mãe não me fala mais
Meus irmãos estou a perder
Eu choro, eu choro
Minha familia eu sacrifiquei
Por ti, meu grande, amor
(...)
Desculpem, sou eu
Eu sou a outra
Também mereço, ser feliz
Oh, meu Senhor, ai ai ai
Também mereço, ser feliz
Eu mereço ser feliz!
Eu sou a outra, by Matias Damásio
Ultimamente, na nossa sociedade, ter outra, pelo reconhecimento/aceitação das familias, logo das forças da vivas da sociedade, faz com que uma amante adquira um estatuto. Ser e ter amante perdeu muito do mítico peso que tinha como segredo. Hoje, interpretado como factor indicador de elevada masculinidade, ao contrário do que deveria ser, o homem adúltero é vangloriado.
No entanto, esta mais-valia, de ter amante, não é vista com a mesma dimensão se se tratar de uma mulher: nesse caso, logo, os bois são chamados pelos seus nomes próprios. Engraçado é que perante casos destes, mais do que nunca, a igualidade de direitos entre homens e mulheres é arrogantemente rejeitada pois “homem não pode carregar chifres, apenas montar um par deles”.
A cena clássica do homem casado prometendo para a amante que largará a esposa é a regra eterna desse jogo que raramente ou tardiamente acaba em separação ou divórcio, o que não impede que o caso extraconjugal continue. Apesar de não gostarem de ser a outra, muitas mulheres mantêm o relacionamento por vários motivos, como baixa auto-estima, interesse financeiro, esperança de que o amado se separe da esposa e, principalmente, pelo forte sentimento nutrido pelo parceiro.
Neste imbróglio, há que diferenciar as diferentes outras: a outra "vite fait" e a outra fixa. A outra "vite fait", traduzido rapidinha, serve apenas para satisfazer a libido masculina e aquelas fantasias que em casa são consideradas aberrações ou taras. Esta outra, muitas vezes, faz desse seu papel uma forma de lucrar algum e tem outro relacionamento para compensar o lado emocional.
A outra, a fixa designada, entre nós, Casa 2, é alguém que tendo começado como vite fait, acaba criando raízes sendo por isso merecedora de um relacionamento não só libidinoso como também afectivo. Muitas vezes, sendo que está é considerada segunda esposa, pelo homem, dessa relação surgem rebentos e o estatuto de Casa 2 cimenta-se com betão.
Muitas mulheres, embarcam nessa aventura com pleno conhecimento de causa, algumas até o fazem de propósito. Algumas justificam a sua participação neste tipo de relacionamento alegando que “há pouco ou quase nenhum macho à solta na praça”. Também há aquela velha máxima de que, em termos estatisticos, em Moçambique, “n” mulheres estão para um homem.
As esclarecidas ou que que já passaram por algum casamento, desempenham sem remorsos o papel de outra, pois nesse tipo de relacionamento dispensam a parte ruim do casamento, como cobranças e discussões. O factor “não compromisso”, não precisar dar satisfação e mesmo assim estar acompanhada do homem de quem gosta, são vantagens que elas teimam em acreditar plausiveis.
No entanto, há outras mulheres que desempenham esse papel, da outra, sem o saberem. Algumas vezes, por força da constante convivência com o amado, chegam a conhecer a família deste e levam muito tempo a descobrir a fria em que se meteram pois ninguém as alerta. No momento da descoberta, ficam decepcionadas e apenas dois rumos lhe restam seguir: continuar ou parar?
Muitas vezes, quando a decisão é a de continuar, há que tudo fazer para garantir que a caça se torne só sua sendo que “o golpe da barriga” tem sido e continua a ser a maior e melhor arma usada nesse momento. Se a munição não é suficiente, estas não se coibem sequer de se dar a conhecer à Casa 1. Tudo com o objectivo de mudar de estatuto de “a outra” para “a própria”!
12 comentários:
Vasikati, há aqui uma ênfase excessiva à libido masculina na questão da busca da casa 2. Embora reconheça que existe a componente libidinosa (onde é que ela não existe? na casa 1?), eu acho que, por essa via se escamoteia algumas coisas importantes que possam motivar qualquer macho a ir em busca de uma casa 2.
Enumeraria pelo menos 3
- relacionamento conjugal deficitário;
- busca de experiências negadas, proteladas ou mal aceites dentro de casa; e
- crise matrimonial aguda.
Pensemos sobre isso.
Martin
Essa é boa Martin, posso tentar acrescer mais uma razão: descobrir que afinal casamento é outro nível, e não apenas um fim de semana passado a dois no Bilene. ‘Apesar de não gostarem de ser a outra, muitas mulheres mantêm o relacionamento por vários motivos, como baixa auto-estima’, Ximbitane, assim mesmo? Uhmm... Não será a elevada estima que fá-la acreditar que pode passar a ser a própria? Emídio Gune
Para além da "ênfase excessiva à libido masculina na questão da busca da casa 2" referida pelo Martin, há que reconhecer que, neste post, as mulheres se assumem: aceitam que "mulheres, embarcam nessa aventura com pleno conhecimento de causa, algumas até o fazem de propósito", isto é, as mulheres, não são aqui apresentadas como aquelas vítimas da mente. Há que dar mérito as Vasikati, afinal a vida não é só ver a mulherada como vítima; elas há muito que deixaram de ser caça para caçarem tb.
Gune, acho que é a auto estima e a confiança nas capacidades que mantém a mulherada nessas relações na perspectiva de virar a mesa um dia.
cara ximbitane,
vou concordar com o martin no respeitante a ênfase excessiva ao libido masculino. não é justamente agora em que a mulher "emancipada" decide que quer também ter um, dois, três e n amantes que acaba tendo? porquê existe a impressão de que a mulher é a coitada? não é verdade que da mesma forma que a mulher se veste como quer também vai-se meter com quem quer?
Mana, subscrevo inteiramente os comentários do Emídio e do Martin.
Benvindo, Martin de Sousa! Enfase excessiva? Aceito, o estranho é que nesse ambito as mulheres sao mais predispostas do que os homens, nao é?
Bom, se levarmos em conta os 3 aspectos que inumerou, porque nao acabar com essa relaçao e começar tranquilamente outra onde tem todos os condimentos para se sentir realizado?
"Assim mesmo?" questiona o meu amigo Emidio Gune. POis é, assim mesmo! Quando a relaçao inicia, nao ha nenhuma garantia, nenhuma certeza e pode até levar muito tempo que isso ocorra.
O investimento feminino nessa relaçao ganha contornos de auto-estima ou elevada estima quando alimentada nesse sentido, mas nem por isso a cachorra deixa de se contentar em roer o osso...
Humm, Bayano, estão no vosso direito, não é? Mas não é essa questão que pretendia fazer passar. Era apenas uma comparação entre a postura/figura que homem com amante tem e a mesma em relação a mulher.
O Bayano sabe, e muito bem, que mulher com amante é p...! E homem com amante? É o tal, o machão, nao é assim?
Tudo bem, Nyikiwa. Creio que quem foi pelo espirito da coisa foi o Matsinhe. Mas isso não apaga a vossa impressão (tu, Emidio e Martin). Bjux
Exactamente Matsinhe! Acho que tem que se parar com a feminização dos fenómenos. Tem que se parar de colocar mulheres no centro de tudo, pois fala-se de feminização do SIDA, da violência, da pobreza e mais...
Acho esse blog muito informativo. Debate temas candentes, muitas vezes propositadamente obliterados por muitos.
Lamento não poder comentar bem esse tema Ximbitane.
Para mim, a questão seria: porque os HOMENS (h+m)traem? Ou, por outra, é ainda relevante pensar num relacionamento monogâmico entre nós?
São perguntas que só me envergonham, mas a Ximbi influenciou-me a faze-las
E, eu, apesar de ter posto o dedo com unha nessa ferida, juro que nao tenho as respostas, Egidio Vaz!
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