quinta-feira, 28 de agosto de 2008

De mulher para mulher

Querida e boa amiga Xim,


Desculpa-me só hoje caligrafar-te umas linhas, mas acredita que a minha vida é um corre-corre constante, às vezes até ando com o sono atrasado, pois o dia só tem 24 horas. Quando me deito, nem sequer sinto as solas dos pés, pois passo a maior parte do tempo de pé. Além de trabalhar tenho as tarefas domésticas por minha conta, cozinhar, lavar, engomar, limpar a casa, vou às compras, pago as contas, enfim, tenho sempre os dias muitos preenchidos, além de apoiar as nossas filhas com as tarefas escolares.


Acho o blog Vasikate va Moçambique muito interessante. Eu não ligo muito à net, mas sobre o assunto da Casa 1 e Casa 2, gostei de ler os vários comentários. Concordo com algumas das razões apresentadas, mas eu tenho a minha opinião pessoal, também a minha experiência pessoal de mulher casada e mãe de dois moços.


Eu sou um bocado conservadora, acho que os bons costumes e alguns dos ensinamentos transmitidos pelos nossos antepassados ainda são uma mais valia nos dia que correm. Acho que as pessoas se tornaram muito materialistas e egoístas, que se deixam fascinar por coisas que nem sequer lhes preenchem a longo prazo, depois não conseguem compreender como ainda sentem um grande vazio, apesar de terem tudo o que supostamente lhes deveria fazer felizes ou realizados. A felicidade está nas pequenas coisas da vida, não nas grandezas ou grandes projectos.


Digo com orgulho que o João foi o primeiro e único homem que conheci na vida, com quem vim a casar-me e com quem tive 4 filhos. Eu sou muito feminina para querer ser feminista, mas sou pela igualdade de direitos entre ambos os sexos, especialmente a nível profissional, mas como há diferenças positivas e negativas entre ambos os sexos, acho que o homem e a mulher se deveriam unir e trabalhar em conjunto, não de forma competitiva, mas como um team, em sintonia, desta forma contribuindo para o equilíbrio da relação, sua harmonia e felicidade do casal e dos filhos.


Quando falas em traição, acho que a maioria dos homens trai sem saber exactamente porquê, acho que é um instinto masculino, uma forma inconsciente de se sentirem mais machos, e acredita que a culpa raramente é da mulher. O homem não precisa de ter um click ou cumplicidade com uma mulher para ter sexo com ela. Ele não precisa dos preliminares, vai logo directo ao assunto. Ele excita-se a ver fotografias pornográficas.


A mulher normal é diferente. Ela precisa de ter um género de ligação a esse homem, precisa dos preliminares, pois não se excita com o visual. Um dos comentadores diz que 'as mulheres nem sempre estão disponíveis, eu poderia acrescentar que uma mulher não é como um botão do interruptor, que se liga ou desliga. A mulher pode alegar estar cansada, estar com dor de cabeça, e arranjar outra desculpa qualquer, mas há sempre outro problema por detrás desse.


Se uma mulher trabalhar fora de casa todo o dia, chegar a casa e ter as tarefas domésticas todas por sua conta, claro que isso irá criar um certo ressentimento, especialmente se o seu companheiro estiver assistindo à TV ou fumando o seu cachimbo, pois o sexo para a mulher não começa na cama, à hora de se deitarem, mas começa logo de manhã, quando acordam, se ele a trata com carinho e amor, ajuda-lhe a tratar dos filhos, quando ela se sente amada sem qualquer conotação sexual, e o sexo ou coito à noite, é a culminação de tudo o que acontece durante o dia. A mulher dá sexo para receber amor, o homem dá amor para receber sexo - isto toda a gente deve saber.


A maioria dos homens ainda é machista, mas a sociedade também contribui muito para que isto se perpetue. Ainda há muita coisa que é aceitável a um homem, mas se for o inverso, cai o 'carmo e a trindade'. As mulheres também têm muitas culpas no cartório, deveriam ser mais unidas, acreditarem mais em si mesmas, serem mais independentes ou auto-suficientes, terem mais auto-estima, etc. Porque teremos de ser a amante, a segunda, ou a Casa 2? Porque não poderemos ser 'a eleita por excelência'?


Deveríamos recusar-nos a papéis secundários e sermos mais solidárias com as mulheres casadas, isto é, não querermos relacionamentos amorosos com homens casados, fugirmos deles como 'o diabo foge da cruz', queria ver onde eles iriam arranjar amantes, só lhes restariam as prostitutas. Eu não gostaria de ser a segunda esposa de ninguém, pois se ele é capaz de se divorciar da mulher por mim, qualquer dia fará o mesmo por outra. Está provado que segundos casamentos geralmente acabam em divórcio.


Eu sou das que ainda acreditam na instituição do casamento. Acho que deveria ser para toda a vida. Acredito na palavra 'não separe o homem o que Deus uniu' - mas claro que há excepções a esta regra. Não acredito que uma mulher deva ser espancada pelo marido, pois a mulher nasceu para ser amada. O divórcio deveria ser concedido em casos extremos, quando mesmo já não há qualquer hipótese de se salvar o relacionamento.



Bem, minha querida, acho que vou ter de ficar por aqui, pois esta já vai longa e tenho ainda muito que fazer. Beijinhos para ti e teus filhotes, meus e da nossa turma.


Com o muito carinho e amizade da Maria



Adenda: A Maria, nome ficticio, é uma mulher que conheci pela via da Web e que convidei para colaborar activamente no nosso blog. Infelizmente, devido aos muitos afazeres, como os que narra na carta a mim dirigida, não o podera fazer. Sabendo que está mulher, que se diz conservadora, é uma grande e sonhadora visionária, convosco quero partilhar (com a devida permissão) os seus pensamentos e ideias em forma de carta.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Saude materna e infantil (1)

O entusiasmo é grande quando se está a pensar em ter um filho. Mas para que a gravidez decorra sem problemas e o que o bebé nasça saudável, é muito importante que a mãe esteja bem de saúde. Em qualquer caso, é indispensável conhecer e controlar os riscos, antes e durante a gravidez, assim como consultar regularmente o médico.

Em Moçambique, o acesso aos cuidados básicos de saúde durante a gravidez é muito restrito principalmente nas zonas rurais, facto que origina altas taxas de mortalidade da mulher e da criança.

Dados divulgados pelo Departamento de Saúde Materno e Infantil dão conta que em cada 100 recém nascidos pelo menos cinco morrem no primeiro mês, as principais causas de morbi-mortalidade neste grupo são: prematuridade, baixo peso ao nascer, asfixia, sepsis, pneumonia, HIV/Sida, malária, diarreia, sífilis, meningite e outras infecções congénitas. A mortalidade neonatal representa 40 % da mortalidade em menores de 5 anos no país.

No que diz respeito as mães, em cada 100 000 nascimentos vivos morrem 408 mulheres. Isto significa que 11 mulheres morrem todos os dias devido a complicações na gravidez e parto. São causas directas destas mortes as hemorragias, rotura uterina e convulsões, enquanto que as indirectas são a SIDA, a malária entre outras.

Muitos enfermeiros e médicos moçambicanos se debatem com a falta de condições adequadas no meio hospitalar para realizarem o seu trabalho, em particular nas áreas recônditas do país. Também há dificuldades em termos de habitação, transporte, falta de comunicações, incentivos salariais e oportunidades de melhor formação e profissionalização.

O Instituto Superior de Ciências de Saúde (ISCISA) graduou recentemente, os primeiros 116 licenciados nas áreas de enfermaria geral, saúde materno infantil e cirurgia. Deste número, 26 graduaram-se em saúde materno infantil, e serão todos afectados nas zonas rurais, com o objectivo de melhorar a qualidade dos serviços de saúde sexual e reprodutiva e saúde neonatal e infantil, bem como a redução do rácio enfermeiro/paciente que é de 1 para 100.

domingo, 24 de agosto de 2008

Vamos adocicar a tarde de domingo?
















Culinária é uma das minhas maiores paixões, sempre que puder deixarei aqui aglumas sugestões.Hoje fiz uma sobremesa muito facil, rápida e gostosa e quero partilhar convosco. Uma tarte de leite condensado. Hummm já tou ver algumas a torcerem o nariz “leite condensado? Nem pensar!Faz mal a silhueta!”. Calma, vou colocar a receita como ela é originalmente e lá mais para o fim vou dar a dica de como fazer para reduzir a quantidade de açúcar.Aí vai:

Para a massa

4 gemas de ovos
1 lata de leite condensado
raspa de 1 limão sumo de 1 limão
1 pacote de bolacha Maria
125 g de manteiga

Triture as bolachas até ficarem em migalhas.Derreta a manteiga e junte a bolacha ralada; amasse tudo bem e vá estendendo na tarteira de forma a forrá-la.











Recheio
Junte o leite condensado, as 4 gemas batidas, a raspa do limão e o sumo do limão. Mexa tudo muito bem e deite dentro da tarteira. Vai ao forno até ficar douradinha, como está na imagem.
Sirva fria e bom apetite!!!

Dicas:
Use apenas meia lata de leite condensado e substitua a outra metade com nata em lata(se quiser pode usar leite ideial), previamente congeladas (durante 3 horas minimo).

Para triturar as bolachas (de preferência maria nacional) use a face mais fina do raspador.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Casa 2


Normalmente, para o homem, o aspecto mais importante para avaliar uma relação, de facto, é o sexo. Uma mulher pode ser inteligente, interessante, ter uma aura magnifica, ser uma companheira extraordinária, compreensiva e autónoma. Pode o mimar de forma fantástica, das pantufas até a cozinha, e apesar disso vai a correr atrás de outra que o arrasta constantemente para a cama e que, de resto, não sabe fazer mais nada do que isso.

Vulgarizado pelo hit pandza-dzukuta do músico Ziqo, que apela a que sua mulher não se chateie porque ele vai para a Casa 2, na nossa sociedade, o termo em referencia é usado para designar a mulher “não oficial” ou a “outra” que se relaciona com um homem casado, ou de alguma forma comprometido com outra mulher, sendo que esta é solteira.

A designação Casa 2 faz ressurgir das cinzas questões latentes na nossa cultura: amantismo, poligamia e respeito pela parceira pois, quando arrogantemente se apela a que a mulher aceite a “outra” porque “ele (homem) tem tanto para dar a uma (Casa 1) como a outra (Casa 2) e que o que é dela está guardado”, nada mais se está a fazer do que rebaixá-la ao escalão mais baixo da falta de respeito!

Mas o que torna isto possível? Ou melhor, como é que as mulheres se “elevam ou baixam” a tal categoria? Será que não se apercebem da “roubada” a tempo de fugir? E a Casa 1? Que comportamento deve adoptar? Submissão ou rejeição a esta pública e clara falta de respeito?

Nos dias de hoje é-nos um difícil saber em quem confiar. Por vezes, nem nos apercebemos dos pequenos sinais que estão diante de nós e dados diariamente pelos homens, sinais esses que nos permitiriam perceber o tipo de vida que levam e com que com eles nos arrastam.

Eis alguns traços típicos de homens com Casa 2:

§ Sicrano trai a Casa 1 e diz a Casa 2 que é casado e sente-se infeliz (?) no seu casamento ou com a namorada;

§ Beltrano, trai a Casa 1 e mente para a Casa 2, dizendo que não é casado ou comprometido e inventa 1001 desculpas para fugir de compromissos (trabalho, reuniões de última hora, viagens de trabalho, morte de familiar, etc.);

§ Terrano (todo-o-terreno) fica por cima do muro, não diz nem que é comprometido nem que não é. É uma incógnita!

No caso de Sicrano, ou seja, do homem assumidamente casado, e que se diz infeliz (à Casa 2), obviamente que ele irá dar-lhe mil motivos para não se separar da Casa 1. Para tal, usará como prováveis razões o facto de se ter casado em comunhão de bens, e que com a separação perderá parte da “fortuna”; que a mulher é doente ou desequilibrada a ponto de ser “bem capaz de cometer suicídio”; que os filhos são pequenos, que a Igreja não permite, e outro rol de ladainhas.

Nesta relação, a Casa 2 serve de muro das lamentações. É nela onde ele busca o tal equilíbrio que falta em casa levando esta situação por vezes muitos anos e, com o tempo o sentimento se vai consolidando, chegando uma altura em que a Casa 2 está tão envolvida que já nem consegue dizer BASTA! Se, a meio de caminho surge um filho, o estatuto de Casa 2 fica então confirmado e muitas vezes “legal”.

No segundo caso, o do Beltrano, o casado não assumido e que se diz separado, divorciado ou seja lá o que for, vive de mentiras, tanto para Casa 1 como para a Casa 2. Desaparece sem razão aparente, inventa viagens de trabalho, não atende chamadas telefónicas ou desliga o telemóvel. Por vezes tem problemas familiares que nem sequer pode partilhar com a sua mais que tudo, a Casa 2, escondendo-se na habitual frase “estou a passar por uma situação difícil, não te posso falar por enquanto”.

Este “abastado proprietário de Casas vivas”, quando finalmente aparece, está morto de saudades, oferece presentes, fala bonito tudo aquilo que nós Casas (1 e 2) queremos ouvir. Ele encanta e leva-nos facilmente na conversa a ponto de estarmos tão loucas de paixão de não enxergarmos o crápula que ele é.

O homem Terrano é o pior (pior?), este não diz nem que sim, nem que não. Foge a esse tipo de conversa com teorias do tipo “ninguém é de ninguém”. É um galã, carinhoso, atencioso mas nunca diz as palavras mágicas e vai induzindo a Casa 2 a fazer as coisas baseiada em suposições do tipo “se ele fez/disse isto é porque gosta de mim ou é só meu”, aqui a paixão está a falar mais alto.

O Terrano não assume nada, a responsabilidade é da Casa 2 que nem sequer sabe que tipo de relação tem com o sujeito mas já está tão apaixonada que não consegue sair ou tem medo de questionar a relação. Enfim, é um desespero total e no fim, ele dá-lhe um pontapé na bunda e ainda dá um jeito de fazer com que a Casa 2 carregue a culpa, porque ele nunca lhe pediu em namoro.

A grande questão é: onde anda o nosso “sexto sentido” nesse momento? O que nos faz não vermos que estamos numa roubada? Como encarar uma situação destas nas duas posições (Casa 1 e 2)?

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Parto de loiça

Recentemente fomos brindados por um acontecimento deveras estranho à natureza humana no ambito da prociação: uma jovem mulher pariu (ou abortou visto que aos 3 meses não se pode considerar parto prematuro) 3 chávenas, vulgo canecas, Made in China.

Em torno da questão, vários foram os comentários tecidos, e como não podia deixar de ser, o acontecimento serviu de matéria prima para os que usam a sua “criativiade” para inventar SMS, algumas delas de conteúdo pejorativo, que circulam nos nossos telemoveis.

A “mãe de fresco”, visivelmente emocionada, não foi capaz de explicar como foi possível o seu ventre alojar 3 chávenas durante 3 meses. Ainda na tentativa de procurar explicação para o fenómeno, procurou-se ouvir opiniões de várias pessoas, estamos a falar de curandeiros, ginecologistas, obstetras e enfermeiros.

Facto curioso é que uma enfermeira do Hospital Central de Maputo deu-nos a entender que casos desta natureza são comuns! Havendo até mulheres que simulam uma gravidez durante 9 meses e no fim imploram às parteiras para que estas informem a sogra que foi um nado morto e que, portanto, não há bebé. Essa enfermeira, disse ainda que há familias que chegam ao ponto de exigir que lhes seja apresentado o corpo da criança já sem vida.

Em muitas sociedades o facto de não existir um filho não é visto como um problema no casal, mas sim como um problema exclusivo da mulher. O homem, neste caso, é vítima da sua própria esposa/companheira, e a pressão exercida pela familia e amigos, faz com que ele se sinta inferior e em descompasso em relação a outros casais.

A mulher, por sua vez, sente-se defeituosa, envergonhada, moralmente arrasada e até mesmo estigmatizada e, por via disso, ela se vê na eminência de receber um cartão vermelho do marido. Dai que, na tentiva de segurar o lar(?), ela recorra a artimanhas como forjar uma gravidez durante 9 meses ou ainda “parir” chávenas ao 3o mês de gravidez!!!

Existem casos de casais que não têm filhos não porque o problema seja da mulher, pois, o homem também pode ser estéril, mas é muito difícil ou quase impossível encontrar um homem que aceite fazer exames médicos para testar a sua fertilidade, deixando assim que a mulher carregue o fardo sozinha.

Infelizmente, apesar de se cantar vitória da mulher sobre a exclusão social, continua visível a ideia de que ela é destinada ao casamento e a maternidade, o que mostra que ainda temos muita estrada por palmilhar!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Em Grande Mutola?



Hoje, a partir das 21:35 locais, cerca de 15:35 de Maputo, a nossa menina de Ouro, a nossa maior inspiração, fará a sua despedida das pistas de atletismo.

Estamos, porém, conscientes de que conseguir a medalha de Ouro será uma tarefa muito difícil, entretanto ainda que isso não aconteça Lurdes Mutola já ultrapassou todas as etapas de um desportista.

No entanto não deixa de ser triste saber que com a saída desta Diva do desporto moçambicano, ficaremos sem uma referência no mundo. Vamos todos apoiar a nossa Menina de Ouro!

Adenda as 15:45- A prova terminou há momentos, e a nossa menina de ouro ficou em 5º lugar, ainda assim ela é a maior. Parabéns pela bela carreira Lurdes e muito obrigada por elevar o nosso nome.

sábado, 16 de agosto de 2008

Amor e casamento, uma parceria dificil

Todos nós, homens e mulheres, em algum momento de nossas vidas, vivemos o sonho do encontro derradeiro com um parceiro. Com características e perfis diversos,almejamos encontrar aquela pessoa ideal, nossa "alma gêmea". A valorização de características que, a priori, imaginamos que nos fará "felizes para sempre", mudam de acordo com mudanças culturais, históricas e demandas pessoais.

Embora a busca seja clara - encontrar um grande amor- muitas vezes quando este encontro finalmente se dá, visualizamos ao longo de histórias conjugais sua deteriorização, ocorrendo por vezes angustia e sofrimento que se prolonga por anos na tentativa de reconstruir o sonho encantado.

Não pretendo aqui demonstrar que o casamento é uma instituição falida nem tão pouco discutir sobre o amor,mas sim levantar aspectos importantes que levam muitas vezes ao final de um relacionamento.

Expectativas: esta é uma das grandes vilãs das relações. Mulheres idealizam e esperam de seus Parceiros verdadeiros "príncipes encantados". Homens, por outro lado, esperam de suas parceiras grandes amantes, cúmplices e super mães. Essas idealizações trazem como conseqüência decepções e o desejo de que o outro se modifique para que este caiba em seus sonhos.

Não é difícil imaginar qual será o desenrolar dessa história: cobranças, brigas e desentendimentos que vão se acumulando, até o momento em que o relacionamento está tão desgastado que, algumas vezes, torna-se difícil refazer o mosaico que se desfez.

Mitos sobre o amor: nosso segundo vilão. A idealização do amor como algo infinito, constante, responsável pelo fim de nossos sofrimentos, faz com que as adversidades e crises comuns no casamento, como em qualquer relação, possa nos promover marcas de sofrimento, sendo muitas vezes desencadeadas por crenças disfuncionais, irrealistas, rígidas sobre o que é amor.

Esperamos que o amor fosse uma fusão. Fusão de duas pessoas que precisam se completar totalmente e tornar-se uma só. O amor não pode ser fusão simplesmente por ela não existir. Existe a solidão mesmo na presença do outro. Existe a infelicidade mesmo quando estamos vivendo momentos felizes. Existe a incompletude real e tácita. Se esperarmos que o amor nos leve a essa completude acabamos gerando sofrimento e possessividade.

Platão descreve no Banquete o mal do amor: o amor ciumento, ávido, possessivo, longe de regogizar com a felicidade daquele que ama sofre atrozmente com ela, mal essa felicidade se afasta dele ou ameaça a sua. Os amantes amam os amados "como o lobo ama seu cordeiro". Esta forma de amor é o contrário do amor generoso que ao contrário de buscar suprimento oferece alimento.

Podemos também discutir sobre as crenças a respeito do casamento e relacionamento amoroso como um obstáculo valioso que interfere para uma vida a dois saudáveis: "devemos ser totalmente companheiros um do outro"; "se nos amamos, devemos contar absolutamente tudo para o parceiro"; "aquele que ama deve apoiar inteiramente o outro, em qualquer circunstância"; "se existe amor verdadeiro, o desejo sexual não deve diminuir ou acabar"; "o matrimônio deve ser para vida toda"; "devemos ter os mesmos gostos e interesses"; entre outras. Estas entre outras crenças nos levam a interpretar erroneamente situações e comportamentos de nossos parceiros, gerando emoções de menos-valia, abandono, raiva, desesperança, tristeza, etc.

É comum encontrar em nossos consultórios homens e mulheres cercados de idéias e expectativas que jamais serão cumpridas por seu (ua) parceiro (a), pois são idéias e expectativas pessoais de "como devo ser feliz".

Porque posso afirmar que jamais serão cumpridas! Pelo simples facto de que são demandas pessoais muitas vezes internalizadas desde a nossa infância, não possui uma correspondência direta com a realidade vivida. Pensamentos instalados sobre ser homem ou ser mulher, nos geram expectativas e conflitos na convivência com o outro.

" Podemos vasculhar e indicar alguns possíveis pensamentos que criamos e aprendemos durante nossa vida: "mulher que não tem filho não é mulher"; "é papel de a mulher conservar o casamento"," a mulher deve se cuidar deve ser vaidosa"; "o homem deve ser o provedor"; "dinheiro é poder, é falo"; "o homem deve ser gentil e protetor".

Imagine a seguinte cena: Imagine a seguinte cena: Casados há seis meses, a mulher e homem com profissões distintas. Certo dia o marido chega à casa cabisbaixo, calado e vai directo para o banho. A esposa preparou um jantar especial para agradar seu novo marido.

Sorrateiramente, aproxima-se da suíte do casal e diz: "querido aconteceu alguma coisa". Ele responde: "não, estou apenas cansado". Ela por sua vez pensa: 'estar cansado é mais importante que eu, que o jantar que fiz. Eu também trabalhei, estou cansada e mesmo assim preparei o jantar. É isso que ele chama de amor!

Deve ter acontecido algo, não quero nem pensar o que, mas ele deveria dividir seus problemas comigo, afinal sou sua esposa, quem ele deveria confiar, a única pessoa que realmente pode ajudá-lo.. 'O marido sai do banho, veste seu pijama e caminha à sala de jantar: "Você não vai me dar nem um beijo "- ele diz. Ela: "Quem deveria dizer isso sou eu. Cheguei a casa correndo, cansada, preparei a comida que você mais gosta e para você parece que nem existe alguém em casa.

Entra pela porta e diz que está cansado! Dizer oi, pra que... tem a tonta aqui que está a sua disposição! Se em seis meses de casamento já está assim, daqui a pouco você dorme fora de casa e vai achar tudo normal "- diz a esposa enraivecida. O marido "retruca:" Você está louca, tive um dia horrível no trabalho, peguei um trânsito infernal! O tempo todo pensando em chegar em casa para ficar ao teu lado, te fazer um carinho e você vem cheia de acusações tudo por causa de um `magnífico jantar`! Isso é ridículo.

Quer saber, não posso mesmo contar com você, o melhor que faço é resolver minhas coisas sozinho. Fique com o seu magnífico jantar que eu vou ficar sozinho com meus problemas. Assim está bom para você! ..."

Vamos analisar este diálogo fictício (mas bastante real). A esposa esperava uma atitude de agradecimento, carinho e valorização de seu marido. Ele esperava compreensão, tolerância e também carinho de sua esposa. O que ocorreu para que a noite terminasse: simplesmente expectativas não atendidas e crenças individuais interferindo emodulando a forma de interpretação do comportamento do outro. Estórias... desilusões.

O que faltou neste pequeno episódio caseiro para que não se tornasse aversivo e destrutivo para os dois amantes: comunicação. Princípio básico: só há comunicação quando comunicador e receptor "podem" ouvir. O "poder"ouvir nos coloca novamente defronte a nossas crenças pessoais.

Como conseguir ouvir se já possuímos crenças, idéias pré-concebidas sobre o amor, felicidade, casamento, etc. Simplesmente impossível! Ouvimos primeiro nossas crenças e regras e assim, a fala do outro, não é mais dele, e sim a interpretação que faço da fala que se esvai.

É prioritário que possamos nos desnudar de nossas ilusões, crenças, desejos puramente pessoais para podermos viver amando e não desamando. Queremos e amamos o que não temos. O amor não é nada senão essa falta. Segundo Sócrates: "o que não temos o que não somos o que nos falta, eis os objetos do desejo e do amor".

Então como resolver esta concreta equação entre amor e casamento! Talvez só exista um caminho seguro. Não versando por segurança, mas pela esperança de uma solução. Abortar a dilacerante idéia de amor, o amor com que sonhamos o amor saciado e saciante, o velho amor água-com-açúcar.

Devemos focar no amor real, como ele é em seu sofrimento fecundo e fecunda dor, com a estranha mescla entre dor e alegria. O amor insaciável (pois não existe saci ação, fusão), muitas vezes solitário, mas sempre crescendo, inquieto com o que ama, e calado em suas crenças pessoais.

Fonte: Profª. Maria Cristina Dotto
www.neurocomportamento.com.br