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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Senhora dona tapete

O medo do abandono, por parte do parceiro, que tem múltiplas consequências psicológicas e sociais como o julgamento social ou o medo de ter sob sua única responsabilidade a educação dos filhos, sobretudo se desempregada, faz com que muitas mulheres façam de tudo visando a todo o custo agradar a cara-metade, mesmo se de lucro ganha bofetadas.

Para estas mulheres, a simples ameaça de abandono é sinônimo de desespero pois a vida apenas faz sentido enquanto ela tiver o “lar garantido” esquecendo-se frequentemente de si mesma. Para servi-lo, vale até servir de tapete, aliás ser esse mísero acessório doméstico parece até ser um prazeiroso sacrificio que pelo qual vale a pena passar.

Agradar o companheiro em tudo é palavra de ordem e, caso ele não concorde com algum desejo ou vontade dela, isso é imediatamente deixado de lado, para evitar contrariá-lo. Com essa atitude, de senhora dona tapete, a mulher castra as suas vontades e desejos em nome da segurança e equilibrio que acredita ser unicamente sustentado pelo amado(?).

Mas esse papel não é só vivido por mulheres com aliança no dedo. Namoradas que prevêm um futuro com o namorado, fazem isso em nome desse longíquo futuro. As outras são campeãs no papel de senhora dona tapete: prestam-se a qualquer serviço, sobretudo no domínio sexual, o que faz delas as “tais”, em nome desse romance proibido e de tudo mais que lucram com isso.

sábado, 23 de maio de 2009

Lendas de vida

Uma noite, um velho índio Cherokee contou ao seu neto sobre a guerra que acontece dentro das pessoas. Ele disse:

– A batalha é entre dois lobos que vivem dentro de todos nós. Um é Mau. É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, mentiras, orgulho falso, superioridade e ego. O outro é Bom. É alegria, paz, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé.

O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:

– Qual lobo vence?

O velho Cherokee respondeu:

– Aquele que você alimenta...

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Solteiras vs Livres

“Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo....isto é carência!(Fransisco Buarque)

Para começar devo dizer que o assunto que pretendo abordar é controverso, complexo e pode ser analisado de múltiplas formas, com maior ou menor paixão, emoção, conhecimento de causa(?).Mesmo reconhecendo a dificuldade em abordá-lo procurarei dar um olhar geral sobre algumas formas questionando o instituido, assumido como “acabado”.A postagem é longa espero que me acompanhem e que tenhamos um debate construtivo.

Antigamente, uma mulher sem namorado, noivo, marido, ou uma relação mínimamente estável era considerada “anormal” por alguns segmentos da nossa sociedade, chegando se até a dizer que ela tem um marido invisível, um xicuembo xa mudliwa, por isso os homens não a conseguem “ver” e á medida em que a idade aumentasse a preocupação também aumentava, daí que era necessário purificá-la – encomendar um banho-, ou encontrar outras soluções para resolver o problema desta que manchava o bom nome da família.


Em certos casos, essa mulher tornava-se numa pessoa frustrada, cheia de problemas emocionais e, depois de uma certa idade, ao ter a certeza de que vai passar para “titia” , como se diz por aí, a vida dela tornava-se um autêntico flagelo, um jardim sem flores, “mulher perigosa”, excluída socialmente. A “sorte triste” dela seria de viver numa solidão(?) eterna tudo porque não conseguiu sair de casa para viver com um homem como a maioria (?) das mulheres!

Com o passar do tempo essa tendencia vem mudando, já se torna “comum” encontrar mulheres orgulhosamente solteiras (?), ou com um relacionamento, totalmente livre de imposições, obrigatoriedades ou exigências masculinas.Este grupo de mulheres, já não se considera solteira mas sim livre! Atenção, não quero com isso dizer que as casadas não podem ser livres, estou apenas a dizer que actualmente nalguns contextos estabelece-se um paralelismo entre a “solteirice e a liberdade”, o que é discutível por isso é que procuro debater este assunto nesta postagem.

Antes de avançar vou tentar mostrar o meu entendimento sobre alguns dos conceitos que serão recorrentes nesta postagem a saber: solteira e livre /independente.
Para mim ser solteira significa aquela que não casou e não tem marido, enquanto que ser livre/independente significa ser autónoma!
Com a introdução do se ser livre começa-se a ter uma concepção menos estanque do ser solteira, ou seja, ser solteira está a deixar de se ser sozinha, começa também a se ser livre/independente...para ser mais clara, estamos a ter uma versão contemporânea de solteiras...eish complicado né?

Ora bem, toda mulher tem o sonho de se casar na “idade ideal” e constituir família, porém nota-se que nos dias de hoje em alguns contextos algumas procuram inicialmente formar e profissionalizar-se de modo a atingir uma certa independência e só depois começam a pensar em relacionamentos sérios, que as tirem da categoria de solteiras, nos moldes defendidos pela maioria das pessoas.A sequência ideial dos acontecimentos deveria ser: formar-se, encontrar um bom emprego, casar e finalmente fazer filhos, claro com o homem ideal.

A mulher, espera que sendo independente,isto é, tendo um rendimento, poderá ter mais segurança e respeito no lar bem como uma certa liberdade em fazer certas coisas sem ter que esperar da boa vontade do marido para que “liberte” os fundos.De certa forma, a independência financeira das mulheres diminui a sobrecarga dos respectivos maridos.

Entratanto, nem sempre as coisas acontecem tal qual a sequência ideal sugere, é comum encontrar muitas mulheres, formadas, financeiramente independentes e belíssimas que não tenham algum relacionamento sério!Deixem-me abrir aqui um parênteses e dizer que certos homens, apesar de admirarem mulheres bonitas e independentes na hora de escolher, é a submissa/dependente quem vai lá para casa!As razões e as motivações dessa escolha são outro assunto...

Do lado das mulheres, hoje são várias as razões que contribuem para o aumento da solteirice, dentre elas a vontade própria para ficar sozinha, a escassês da” espécie” (leia-se homens), os insucessos amorosos, razões de ordem tradicional, os próprios ”termos de referência” do candidato que são muito peneirados o que faz com que o tempo passe enquanto aguardam pelo parceiro á altura, o facto de já terem sido casadas- dependentes/submissas ou não -e não quererem repetir a (má?) experiência, por aí em diante.

A verdade é uma, a solteirice está a ser vista de forma diferente, encará-la com alguma “normalidade” torna-se cada vez mais comum.Ser solteira hoje começa a ser diferente do que era ontem, aliás há quem ache que o estado civil começa a preocupar mais aos homens do que as mulheres...Será?

Esta nova tendência pode ser uma forma de “aceitar” e encarar a realidade, nas suas multifacetadas vertentes, tentando dar outro sentido a vida, sem se apegar aos aspectos normativos considerados correctos, também pelo facto de se achar que ser livre tem as suas vantagens pois, não se precisa prestar contas a ninguém-entenda-se homem- permite ter o seu próprio espaço, liberdade para se relacionar com quem quiser- o que não se deve confundir com a dita promiscuidade- ter mais tempo para se dedicar a carreira e vida profissional etc. Aqui a independência financeira é aliada á pessoal.

Pois bem, chegados a esta parte é fundamental questionar: Será que esta liberdade é de todo satisfatória?Existem momentos em que todos precisamos de dar e receber carinho, amor atenção enfim sentirmo-nos imprortantes para alguém, será que nesses momentos o “caso, saca cenas ou fica” seja qual for a denominação, consegue suprir essa necessidade?E até que ponto o facto de algumas mulheres quererem e lutarem para serem livres não as torna dependentes dessa mesma liberdade?Serão depois de “livres” realmente “livres” ou controladas por essa liberdade?

Bem, não posso deixar de dizer que esta nova versão tem o seu lado bom, se antes ser solteira dava ideia de solidão, só, sozinha, mulher incompleta, hoje, esse limão já não é tão azedo, podemos dizer que está um pouco mais ou menos - bavitsoco (agridoce) - não acham?

Seja como for solteira ou casada o importante é tentar ser feliz, e não depende apenas necessariamente da existência de um parceiro(a) com quem se divide o espaço!



domingo, 1 de fevereiro de 2009

Depois do parto (4)- FIM



Sexualidade(B)


Amigos, termino hoje a série sobre o pós parto.É verdade que não poderia, apenas em 4 posts, abordar tudo o que tem a ver com este período, dai que poderei isoladamente retomar o assunto.Termino abordando o mesmo tema com que iniciei, a sexualidade.

Na primeira postagem, discutimos factores que condicionam o sexo depois do parto, com maior incidência para a dificuldade que as mães têm em retomar a vida sexual, hoje iremos discutir a ausência de sexo derivada por motivos culturais ou tradicionais para alguns.

Ku Hissa

“Hiii não posso/ não podes tocar na criança porque estou/estás quente”! Ou o papá volta para casa todo animado para levar o bebé ao colo e logo é interpelado: "Estás em condições??" Quem nunca ouviu/viveu isso?

Depois do parto existe uma série de rituais/práticas culturais que os pais, os familiares próximos, e não só, devem seguir. Esses rituais variam de acordo com o contexto social.O ku hissa –estar quente- , não sei se a tradução mais feliz seria essa, é uma dentre as várias práticas culturias que marcam o período pós-parto. Este ritual, nalgumas regiões, consite em até a queda do umbigo do recém nascido só pode tocá-lo quem se tiver abstido de relações sexuais por pelo menos dois dias[1], caso contrário, se a criança for tocada por alguém “quente” terá problemas sérios de saúde e poderá morrer.

Mais ou menos podemos dizer que se trata de uma prática cultural que interdita o contacto com o bebé após um acto sexual.Evitar o ku hissa é um processo que pode significar, nalguns casos, proibição ou abstinência temporária da actividade sexual, pelos pais, familiares próximos e não só.Esta interdição ou abstinência visa afastar os "perigos", as impurezas culturalmente construidas, de grupo para grupo, advindas da actividade sexual, que se acredita afectariam a saúde do recém nascido quando não evitados.Portanto, esta fase representa um momento crucial e desafia os visados à uma busca constante da purificação, que no caso seria o não estar “quente ” de modo a poderem tocar no bebé.

Há no entanto, quem extenda o "dry season" por cerca de 3 meses, caso dos praticantes da seita religiosa zione, que só retomam a actividade sexual depois de uma cerimónia denomidada “nhimbissa nwana” (titrar a criança de casa)[2].Outros ainda, abstêm-se se sexo para evitar que a mulher engravide enquanto amamenta, pois para eles, o leite de peito será contaminado pelo sémen e por sua vez, poderá enfraquecer a criança podendo crescer com certas anomalias -ku djambela nwana.

Pois é, muitos de nós seguimos estes rituais simplesmente porque os nossos pais o faziam, estes por sua vez apenas repetiam o que os seus pais faziam assim sucessivamente, ou então porque o vizinho, amigo, tio disse, havendo até disparidades quer em relação ao signficado/significação da prática em si, quer em relação ao período certo em que os casais, e não só, devem esperar até retomarem a vida sexual, variando em função de como cada família “recebeu” a informação.O problema porém é que nunca questionamos, ou se o fazemos a resposta que recebemos é que faz parte da tradição -swa yila e pronto!

Será que um ritual se torna válido apenas porque faz parte da tradição? Qual é na verdade o valor/significação das praticas que seguimos ao longo tempos?Qual é a sua finalidade?Quem atesta o que é genuinamente tradicional e que por isso deve ser seguido?E o que acontece com a ‘tradição’ ao longo do tempo?Será que vê-mo la hoje como os nossos pais e os pais dos nossos pais a viam?Temos nós coragem suficiente de nos fazermos estas perguntas ou tudo já está culturalmente explicado por isso não é preciso perguntar mais nada?

Atenção, não estou a dizer que sou contra as práticas culturais ou ditas tradições que fazem parte da identidade social dos grupos, acho que elas são importantes e devem/podem ser seguidas, aliás se foram criadas foi porque houve algum motivo para tal, porém, julgo ser importante percebermos porque razão agimos como agimos.O facto de algumas das práticas culturais terem condicionado a visão do mundo numa certa perspectiva nos tempos idos, não quer dizer que assim seja nos dias de hoje, os contextos mudam, o conhecimento desenvolve-se, a cultura é dinâmica, obviamente que estas práticas culturais também o são, logo há que procurarmos perceber se o valor simbólico das mesmas bem como a sua essência continuam válidos nos tempos que correm ou não.

Voltando ao ku hissa alguma vez nos perguntamos como as parteiras, os médicos ou as babás cuja “ferramenta de trabalho” são recém nascidos fazem a “gestão” da sua vida sexual em função do ku hissa?Porque será que para este grupo de profissionais já não nos incomoda tanto assim o estar ou não “quente”?Porque será que para este grupo de profissionais não se aplica esta interdição?E o ku djambela nwana é (i)real?É verdade que para uma mãe que amamenta a probailidade de engravidar é reduzida, entretanto, caso engravide, ela pode continuar a amamentar.

Como se pode ver há uma necessidade de despirmos a característica dogmática da "tradição" , modernizando-a, e questionarmos se ela se enquadra no contexto actual pois, a meu ver em alguns casos ela, entra em conflito com a nossa forma de ser e estar, nos dias de hoje, e com os avanços trazidos por outras formas de conhecimento que também são tradionais mas ao mesmo tempo dinâmicas.

Bem, não posso deiaxar de dizer que o ku hissa, o ku djambela e os demais rituais têm o seu mérito pois, fazem com que se preste maior atenção ao recém nascido, evitam que os papás procurem se “satisfazer" lá fora, também evitam as gravidezes seguidas, principalmente nas zonas rurais onde quase que não se usam métodos contraceptivos ditos modernos propiciados via unidades sanitárias mas, por outro lado, transformam as relações sociais há vários níveis, e acabam "desordenando" a vida sexual do casal, principalmente pelo facto de existirem disparidades em relação ao prazo do período “seco”, isto pode fazer com que retorno a normalidade da vida sexual pelo casal leve muito mais tempo, com todas as consequências que possam daí advir....

[1] JUNOD, H. Usos e Costumes dos Bantu, Arquivo Histórico de Moçambique, 1996, Pag 66,
[2] LOFORTE, Ana Maria, Género e Poder Entre os Tsonga de Moçambique, Promédia, Colecçao Identidades, Pag 214.