A Companhia Nacional de Dança em parceria com o Centro Cultural Franco Moçambicano e a Fundação Cuvilas, realizou entre os dias 28 e 30 de Agosto um festival de dança contemporânea em homenagem ao coreógrafo e bailarino Augusto Cuvilas, assassinado em Dezembro do ano passado.
Pela ocasião, foi exibido o bailado “ Um solo para 5”, que tinha como particularidade apresentar bailarinas despidas de todos os preconceitos e que, portanto, exibiram-se tal como vieram ao mundo conforme projectara e coreografara o homenageado. E, diz quem viu, não se tratou de sessão de striptease de casa de alterne. O mesmo bailado já representou Moçambique num festival internacional em Madagascar onde arrecadou um prémio em 2003, e no Panorama Rio Dança - Brasil em 2005.
Na véspera da sua realização, o público foi alertado para o teor adulto do bailado e que, portanto, não seria recomendável para menores de 18 anos. Entretanto, surgem manifestações de repúdio por parte de organizações religiosas e da sociedade civil moçambicana que consideram que bailado não representa a nossa cultura e é um atropelo a boa moral da sociedade moçambicana.
A este proposito, a representante da Fundação Cuvilas, mostrou-se agastada com as reacções das organizações pois, segundo ela, o bailado obedeceu a padrões internacionais.
Uma das grandes expressões da arte é, sem dúvida, a representação do corpo nu, portanto o nu artístico. Nu artístico é a designação dada à exposição do corpo de uma pessoa nua para fins artísticos e esse nu, apresenta-se sob forma de escultura, pintura, fotografia, dança, sendo que o corpo humano sempre chamou atenção pela sua beleza.
Retratar o nu é uma manifestação artística que remonta à Antiguidade, época em que pintores e escultores encomendavam modelos vivos para servirem de referência para suas obras-primas. Hoje, a representação do corpo feminino está um pouco vulgarizada por trabalhos que visam apenas o erótico/obsceno, alias, muitos video clips e letras de musica, que desfilam sem barreiras nas televisões e rádios nacionais são exemplo disso.
Nalguns casos, é evidente que se pretende destacar que o corpo humano pode ser usado na expressão artística. O problema é, porém, através do contexto onde o nu está inserido se diferenciar o olhar erótico do olhar artístico. Torna-se difícil ver beleza da composição da imagem, a coreografia, a sensualidade, a mensagem, o uso do corpo como instrumento de informação e sensibilidade, pois, ao invés de nu artistico, passa-se a ver apenas a “mulher nua” e saciar nossos instintos primitivos, arrastando assim, a uma consideração moralmente má do corpo feminino, que rebaixa a sua dignidade à de simples objecto sexual.
Será o facto de neste caso particular o nu artistico estar representado sob forma de dança que gerou repúdio? Temos os casos da Reinata, Naguib, Malangatana só para citar alguns, que retratam o nu feminino e são consideradas verdadeiras obras de arte nacional e internacionalmente! Estas obras expessam “mulheres nuas” ou “nu artístico”?E representam a nossa cultura?
Segundo Haid Mondlane, no seu comentário aqui, os valores na nossa sociedade oscilam entre dois critérios: “o moralista e o pragmático. No primeiro as coisas são avaliadas pelo que é eticamente considerado como bom/aceitável. No segundo dá-se mais atenção aos resultados que alcançamos. Aqui ignora-se os meios dando primazia aos fins, surge um conflito quando os dois critérios se cruzam....”.
Neste caso, as organizações religiosas consideram o nú artistico imoral, entretanto a classe artística serviu-se do mesmo (nú artístico) para difundir uma mensagem.O mais complicado é quando misturam se de forma conflituosa, onde o que é considerado “moral” (pelos artistas), é simultâneamente considerado “imoral” (pelas organizações religiosas), ou seja para atingir um fim que se pretende “moral” actua-se de forma “imoral”.
Quem está certo? Em que circunstâncias a “mulher nua” representa a nossa cultura? Na pintura? Na escultura? Na cerâmica? Na dança? Na....?
5 comentários:
"Velas do meu pensamento
aonde me quereis levar?"...!?...
SALUT!
Boa questão, Vasijate.Pior nisto foi ver o Silia a prometer investigar e responsabilizar os autores. Ou seja, Silia nem teve tempo de ver o bailado (acto que nais uma vez vem provar a incultura dos nossos dirigentes) e logo pos aboca no trombone. Como tem mentalidade curta) se esqueceram de que a peça já tinha sido exibida em outros lugares.
Abraços a sensatez
Salut rosa et oliver
Egídio,
Obrigado por cá passares.
Vamos aguardar para ver quem vai ser responsabilizado e porquê!
Vulgaridade nao é e nunca sera arte. Se a Companhia é embaixadora ou triz da nossa cultura, dentro e além fronteiras, tudo o que ela representa é arte, logo nosso arte.
Aceito que esta pratica nao seja comum entre nos, alias, o comum entre nos é condenarmos e nos bambolearmos ao som de musicas que deviam ser banidas e que nem o sao. Mas lembremo-nos que a arte é universal e nao pertença unica de um povo.
Lamento ter perdido a chance de ver esse espectaculo, que de certeza foi soberbo. As interpretaçoes, elogios e condenaçoes, deixo para os outros. Mas é muito triste o que se tem dito sobre o assunto.
Parece, falo particularmente dos reguladores da tal cultura ou arte, esqueceram-se quem foi Cuvilas. Esse mesmo cuja obra foi manifestamente perpetuada pelo "Solo para 5".
PS: Aceito correcçoes se estivere errada!
As coisas novas têm tendência a assustar e a serem condenadas e, se quisermos, literalmente apedrejadas.
Estou de acordo com a Ximbitane quando diz que aceita que que esta pratica nao seja comum entre nos. Estou de acordo com ela que temos o hábito de condenarmos e nos bambolearmos ao som de musicas que deviam ser banidas e que nem o sao.
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