...A depressão
“(...)Perante esta situação cheguei a pensar que ele havia perdido interesse por mim. E a falta de preocupação pelo sexo por parte dele, deixava-me cada vez mais preocupada. Comecei a pensar que ele já vinha “satisfeito” das suas andanças. Passei a ter ciumes da minha filha, pelo carinho e mimos que ele dava e passei a sentir-me como mãe da filha e não esposa(...)”Nini.
A Depressão Pós- Parto (DPP) embora seja um fenómeno que pode ocorrer tanto nos homens como nas mulheres, é sobre elas (as mulheres) que recaiem as minhas atenções como veremos ao longo do texto.Uma das razões da escolha é que este ‘fenómeno’ está cada vez mais visível nos dias que correm, mas que me parece pouco falado entre nós. Sendo assim, sem querer entrar em discussões académicas, me proponho discutir de forma aberta convosco.Não terminarei este post sem dar uma incursão ao lado masculino.”Mas por agora vamos começar do começo”
O que sentimos quando não conseguimos interpretar o choro do bebé sendo invadidas pela sensação de incapacidade a ponto de desatarmos a chorar junto com ele? O que sentimos a primeira vez que nos olhamos ao espelho depois de voltar da maternidade?O que sentimos quando experimentamos aquela jeans que guardamos na mala aos 4 meses de gravidez e ela simplesmente não atravessa o joelho?E o medo por ter uma vida nova nas “nossas mãos”?O medo de não voltarmos a ser como eramos antes? Será que temos que ser como eramos antes?E a impressão de que algo de mal vai acontecer?A dificuldade em habituar-se a nova rotina?E.....? Tudo isto e muito mais pode transformar os primeiros meses de chegada do bebé num ‘’pesadelo’’, para algumas de nós.
Que o nascimento de um bebé traz alegria para a família, em geral e para o casal em particular, não restam dúvidas porém, em alguns casos pode trazer consigo uma angustia profunda na mãe e não só. Sintomas como desespero, ansiedade, mudanças bruscas de humor, indisposição, falta de vontade de cuidar do bebé e de sair a rua entre outros, são comuns logo após o parto .
Sob ponto de vista emocional este comportamento é normal pois, a passagem de filha -namorada - esposa para mãe, as transformacões ocorridas no corpo, as mudanças na forma de encarar e viver a sexualidade e o ser mãe, entre outros são mudanças que ocorrem e requerem um reordenamento psiquico na mulher.Geralmente a DPP começa duas semanas após o parto e não existe um período certo para sua duração variando de acordo com a forma como ela é encarada.
Existem factores de risco que estão corelacionados com a DPP, entre eles temos: sensação de ter sido passada para trás pelo marido/companheiro e por outras pessoas próximas, uma vez que todas as atenções estão voltadas para o bebé, as transformações ocorridas no corpo que baixam a auto estima, e ela (a DPP) é propensa às mães solteiras, as que tiveram sintomas depressivos durante ou antes da gestação, as que apresentam um histórico de transtornos afectivos, as submetidas a cesariana, as que perderam pessoas importantes durante a gravidez, aquelas cujo bebé nasce com anomalias, mães pela primeira vez, as que dão a luz sem que o esposo/companheiro esteja por perto, as que passaram por dificuldades para conseguir conceber, as que vivem em desarmonia conjugal, aquelas que o filho foi gerado por estupro/violação sexual, entre outros.
Se a mulher receber apoio de familiares e principalmente a compreensão do companheiro a DPP pode ser “leve”, entretanto, casos há em que ela se agrava carecendo de acompanhamento médico, pois acaba afectando a funcionalidade da mãe, pondo em perigo o seu bem estar para além de afectar a saúde mental do bebé.
A mentalidade de que o ser mãe é um momento de júbilo e que mulher deve estar felicíssima com a chegada do bebé, e por via disso qualquer afecto negativo de mãe para filho é impensável, e condenável, faz com que pessoas mais próximas não compreendam que se trata de DPP e concluam que a mãe se sente incapaz de cuidar do bebé, não dá valor a maternidade, é ingrata e até mesmo está com “manias”.Esta falta de compreensão reduz a atenção e dificulta a obtenção da ajuda que elas precisam receber.
Julgo que os serviços de saúde deveriam incluir nas consultas pré natal, ou nas palestras (falecidas), sessões de psicologia de gravidez-não sei se existe essa especialidade entre nós- aí as futuras mães teriam oportunidade de obter esclerecimento essencial e provavelmente ajudariam- nas a manter a auto estima em cima.Há alguns ginecologistas/obstetras que dão uma certa orientação as suas pacientes, porém ela (a atenção/orientacao) tem incidido maioritariamente em questões relacionadas ao parto, sendo que o pós- parto é pouco abordado.
Como disse anteriormente a DPP também afecta aos homens, as causas são várias de entre elas o facto da companheira estar deprimida, a sensação de que a chegada do bebé abana a sua “boa vida”(comida na mesa, agua quente na casa de banho etc), a preocupação com o sustento da familia, o facto sexo do bebé não ser o esperado entre outros fazem com que os papás se sintam deprimidos.
Bom,vai mais um apelo as pessoas próximas da mãe de fresco, para que prestem atenção ao humor depressivo que geralmente se apresenta no pós-parto, e que sejam compreensivos, evitem cobrar atitudes e dêm todo o apoio que a mamã precisa neste momento único.
11 comentários:
Ola Yndongah
Tenho estado a seguir esta série – sexualidade - com interesse quero, por isso, dar os meus parabens pela iniciativa de teres decido desafiar as nossas (in)compreensões(?) sobre este assunto. Esta postagem, em particular, é interessante como disseste fala de um assunto que parece trivial mas que está ao nosso redor, embora pouco abordado, dai a minha força para continuares a “vascular estes pequenos - grandes aspectos” que mexem com as nossas vidas a diferentes níveis, sem por vezes nos darmos conta disso. Deixando para trás o blá blá, embora as tuas atenções estejam centradas na mulher – e aceito a tua opção- eu prefiro olhar os dois lados (homem/mulher – o que chamo pais mais adiante) por isso gostaria que discutissemos as diferenças da DPP entre os pais de primeira viagem e os que estão na segunda gestação em diante, pois acredito que a situação é diferente.Para os “marinheiros de primeira viagem” , creio, a inexperiencia deles joga um papel fundamental, se calhar a partir daqui podemos entrar, vamos-la dizer, para um outro aspecto que seria: como é que analisas a aceitabilidade/tolerância da DPP por parte das pessoas que estão ao redor dos que acabam de ser pais, pela primeira vez e os que já não caloiros na arte da reprodução...
Abraços, Aurélio Miambo
A diferença de idades entre eu e a minha mulher jogou sobremaneira, pois, eu, na posição de mais velho na relação, antecipei-me naqueles pontos que sabia que podiam constituir problema no pos parto. De facto, li muito sobre a DPP, pois, tinha na mente, que ela sempre acontece, podendo ser em maior ou menor grau e dai a importância de monitoramento da situação. A primeira atitude que tomei, foi ceder a informação que tinha a minha mulher, durante a gravidez, para que no mínimo se informasse do que lhe esperava. Pos parto, também enchi-a de informação e conversamos muito, sobre todas as questões: quilos a mais, a beleza, o bebé acima de tudo. De facto, um bebé saudável, é o ponto de partida para que não haja problemas maiores, mas mesmo que seja saudável, o bebé tem particularidades próprias que se a mãe desconhece, pode chegar ao ponto de total desespero.
Lembro-me de dizer sempre a minha mulher que bebés, principalmente de sexo feminino regra geral, tem problemas de cólicas e nada soluciona este problema senão algumas medidas de alivio e a criança não tem como manifestar a dor, senão chorando, por isso deixe-a chorar um pouquinho mais, até que ajuda a abrir as cordas vocais. Depois disto nos riamos, isto é; tentava transformar uma situação de hipotético stress em alguma brincadeira e ajudou muito.
Bem falei muito, o texto é da mana Yndogah e não meu e o protagonismo é dela que trouxe este tema que acho de vital importância, porque mal resolvido degenera até nas elevadas taxas de divórcio, para além de sequelas que podem acompanhar a vida toda.
Bem hajas.
Que bom saber que há homens envolvidos na maternidade e na DPP!!! Parabéns a eles. Eu, apesar de ter um marido muito culto, não foi atento nestas matérias ... e tive 4 filhos, mas brindo pelas sortudas companheiras destes comentaristas!
Miambo, apesar de nao se ter dirigido a mim, dou-me a liberdade de narrar a minha experiencia de maruja-mae que retrata as duas situaçoes que levanta.
Como mae de primeira viagem, a experiencia foi super traumatica. Depois de uma gravidez tranquila, tive um parto terrivel (cesariana) e como consequencia disso repeli a minha princesinha. Não a queria por nada, recusava-me a amamenta-la, a cuidar dela, enfim, um calvario.
Tudo pura e simplesmente porque achava que ma tinham arrancado do ventre e não que a tivesse parido: DPP é um trauma. Nem eu, nem o meu marido nos tinhamos acautelado com esses pequenos "quês", a nossa unica preocupação tinha sido o enxoval, o berço, etc, etc. Azar ou sorte, o moço não quis que eu ficasse em casa da mãe e eu não podia consentir que a minha ficasse em nossa casa.
Pronto, o caos instalou-se. O berreiro da miuda, as dores da operação, as noites mal dormidas, entrei em panico. Nem eu, nem ele percebiamos o que estava a acontecer, salvou-me a minha mae 4 dias depois do nascimento da minha filhota levando-me a uma psicologa.
No segundo parto, já mais preparada e com o "espirito aberto", encarei as coisas com mais naturalidade e até amei o parto (também de cesariana). Mas, conforme me disse a psicologa, a que fui obrigada a consultar durante a 2a gravidez, há casos de mulheres que tem a primeira viagem tranquila e que na segunda há problemas. Vai-se lá perceber o mar?
Amosse, parabens pela tua postura. Alias, caro, os teus comentarios deste ano estão a deixar-me de queixo caido. Se todos fossem assim!?
Anonima, muito certo o que você diz, imagino como terá sido a sua experiencia... em 4 viagens!
Pois eh amigo Miambo, as coisas nao sao tao banais quanto parecem.Espero que quer o amigo quer os demais leitores passem a olhar para estes pequenos (grandes)aspectos de forma diferente.
Quanto as tuas questoes embora nao seja expert na materia creio que para os que rodeiam a mae torna'se mais facil lidar com a situacao a medida que os filhos se seguem, quanto a mae por um lado pode ser facil_ veja o comment da Xim_ mas nao podemos nos esquecer que existem factores de risco que ainda que ela esteja na 3a ou 4a gestacao podem causar uma dpp profunda, caso da perda de alguem importante na vespera do parto entre outros.
Muito obrigado pelos elogios e volte mais vezes.
PS desculpem me a falta de acentuacao.
Amigo Amosse, muito obrigado pelo teu comentario, junto a Xim e te dou os meus parabens pela forma como tomou conta da situacao.
E nao se preocupe com o quanto falas, a casa eh nossa!
Cara anonima junto me a si e dou os parabens aos homens que se interessam por estas materias, mesmo aos que nao se manifestaram aqui. Creio que a semelhanca de muitos o seu marido nao prestou devida atencao por desconhecimento,mesmo sendo culto ha sempre alguma coisa que se lhe escapa.
Muito obrigada por aqui passar e volte sempre.
Xim, realmente não é fácil perceber o mar principalmente porque neles desaguam muitas aguas... diariamente!O teu relato dá-me algumas luzes embora ainda desconfie, um pouco, da eficácia da “experiencia acumulada” nesta arte porque cada gravidez e, por conseguinte, cada pós-parto é sempre um caso único com as suas vicissitudes.
Yndongah, experts há vários incluindo o dia a dia que é um deles, agora se ficassemos a espera só de um tipo apenas podes crer que as nossas vidas se complicariam mais ainda.Nestas coisas de troca de ideias o que vale é um ponto de vista esclarecido e esclarecedor e isto com um pouco mais de esforco ‘qualquer um’ de nos pode fazer.
Abracos, Aurelio Miambo
Vasikate
O nascimen de um filha desejado, é benção para o casal. No entanto há miores ou menores problemas que se podem advir da DPP, consoante as pessoas ou as circuntâncias. Será sempre um mal passageiro, colmatado com uma nova vida que estamos a projectar. O pior é quando o problema do bomem, que por vezes, não está preparado para entender, que precisa de transmitir ânimo.
Daniel
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